ATA DA DÉCIMA QUINTA SESSÃO SOLENE DA TERCEIRA
SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 28.05.1991.
Aos vinte e oito dias do mês de maio do ano de mil
novecentos e noventa e um reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio
Filho, a Câmara Municipal de Porto Aelgre, em sua Décima Quinta Sessão Solene
da Terceira Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura, destinada à
entrega dos Títulos de Cidadãos Eméritos aos Senhores Telmo Kruse, concedido
através do Projeto de Resolução nº 47/90 (Processo nº 2184/90); Ladércio Furla,
concedido através do Projeto de Resolução nº 54/90 (Processo n° 2383/90); Mário
Seixas Aurvalle, concedido através do Projeto de Resolução n° 32/90 (Processo
nº 1562/90); Ermógenes de Paula M. Cardoso, concedido através do Projeto de
Resolução nº 05/90 (Processo nº 462/90); e Ariovaldo Alves Paz, concedido
através do Projeto de Resolução nº 33/90 (Processo n° 1603/90). Às dezessete
horas e dez minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente
declarou abertos os trabalhos e convidou os Líderes de Bancada a conduzirem ao
Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Vereador
Airto Ferronato, 1º Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre,
presidindo a Sessão; Senhores Telmo Kruse; Ladércio Furla; Mário Seixas
Aurvalle; Ermógenes de Paula M. Cardoso e Ariovaldo Alves Paz, Homenageados;
Senhoras Dalva Furlan; Juremy Aurvalle; Dinah Borges e Marisa Vargas; Vereadora
Letícia Arruda, Secretária “ad hoc”. A seguir, o Senhor Presidente fez
pronunciamento alusivo à solenidade e concedeu a palavra aos Vereadores que
falariam em nome da Casa. A Vereadora Letícia Arruda, como autora da proposição
que concedeu o Título de Cidadão Emérito ao Senhor Telmo Kruse, discorreu sobre
o trabalho profissional do Homenageado, destacando os relevantes serviços por
ele prestados à comunidade porto-alegrense. O Vereador Cyro Martini, como autor
da proposição que concedeu o Título de Cidadão Emérito ao Senhor Ladércio
Furla, discorreu sobre a formação acadêmica e familiar de S.Sa., ressaltando o
reconhecimento por ele recebido de todos aqueles com quem convive e trabalha. O
Vereador Isaac Ainhorn, como autor da proposição que concedeu o Título de
Cidadão Emérito ao Senhor Mário Seixas Aurvalle, discorreu sobre a contribuição
dada pele Homenageado ao progresso da nossa Cidade, salientando a importância
sempre dada por S.Sa. à advocacia trabalhista no Estado. O Vereador Luiz
Machado, como autor da proposição que concedeu o Título de Cidadão Emérito ao Senhor
Ermógenes de Paula M. Cardoso, destacando encontrarem-se hoje presentes na Casa
representantes dos mais diversos segmentos sociais, discorreu sobre a vida do
Homenageado, salientando sua atuação como empresário e Líder comunitário. E o
Vereador Nelson Castan, como autor da proposição que concedeu o Título de
Cidadão Emérito ao Senhor Ariovaldo Alves Paz, atentou para a presença de
grande número de amigos do Homenageado, discorrendo sobre o trabalho
profissional de S.Sa. e, em especial, sobre sua atuação na difusão do samba e
do nosso Carnaval. Após, foi ouvido número musical apresentado pela Banda
“Pagode do Dorinho. Em continuidade, o Senhor Presidente convidou os Vereadores
Letícia Arruda, Cyro Martini, Isaac Ainhorn, Luiz Machado e Nelson Castan a procederem
à entrega dos Títulos Honoríficos de Cidadão Emérito, respectivamente, aos
Senhores Telmo Kruse, Ladércio Furla, Mário Seixas Aurvalle, Ermógenes de Paula
M. Cardoso e Ariovaldo Alves Paz, e concedeu a palavra aos Homenageados, que
agradeceram o Título hoje recebido. Às dezoito horas e cinqüenta e nove
minutos, o Senhor Presidente agradeceu a presença de todos e, nada mais havendo
a tratar, declarou encerrados os trabaldos, convocando os Senhores Vereadores
para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram
presididos pelo Vereador Airto Ferronato e secretariados pela Vereadora Letícia
Arruda, Secretária “ad hoc”. Do que eu, Letícia Arruda, Secretária “ad hoc”,
determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será
assinada pelos Senhores Presidente e 1º Secretário.
O SR. PRESIDENTE
(Airto Ferronato): Esta Sessão Solene está destinada a entregar o título de Cidadão
Emérito de Porto Alegre ao Srs. Mário Seixas Aurvalle, Ladércio Furlan, Telmo
Kruse, Ermógenes de Paula M. Cardoso, Ariovaldo Alves Paz. Informamos que está
presente, representando a Associação Riograndense de Imprensa o Jornalista
Firmino Sá Brito Cardoso. Ilustres companheiros da Mesa, Srs. Vereadores,
senhoras e senhores, na Sessão Solene de hoje a Cidade homenageia cinco
personalidades que por sua atuação na comunidade receberão desta Casa o título
de Cidadão Emérito de Porto Alegre.
O Sr. Telmo Kruse é médico, nascido em Porto Alegre, foi Diretor-Técnico
do Hospital Cristo Redentor e um dos fundadores do Hospital Fêmina, membro e
ex-regente do Colégio Internacional de Cirurgiões, sócio-fundador do Rotary
Club Porto Alegre Nordeste, é Chefe da clínica cirúrgica da Santa Casa, onde
atua gratuitamente na 10ª Enfermaria, há 46 anos. Sua indicação para o título
de Cidadão Emérito partiu da ilustre Verª Letícia Arruda.
O Sr. Mário Seixas Aurvalle, advogado, professor de Direito Comercial,
Cônsul Honorário do México, em Porto Alegre desde 1984, fundou o Instituto do
Direito do Trabalho do Rio Grande do Sul e a Associação dos Docentes do Vale do
Rio dos Sinos, advogado e Conselheiro do Consulado Geral da França. A
proposição do título de Cidadão Emérito partiu do nobre Ver. Isaac Ainhorn.
O Sr. Ermógenes de Paula Cardoso, natural de Caxias do Sul, é morador da
nossa Cidade desde 1941, tendo-se destacado através de lutas reivindicatórias
para melhorias do Bairro Cavalhada, onde reside desde 1952. A proposição do
título é do nobre Ver. Luiz Machado.
O Sr. Ariovaldo Alves Paz, nascido em Porto Alegre, a partir de 1947
iniciou suas atividades ligadas ao carnaval na Sociedade Beneficente Cultural
Bambas da Orgia. Foi seu Diretor de Harmonia e seu Presidente, foi homenageado
pela Rádio Farroupilha, Jornal do Comércio e Folhetim do Zaire. A proposição do
título é do nobre Ver. Nelson Castan.
O Sr. Ladércio Furlan, nasceu em Apucarana, no Paraná,
é formado em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas, Presidente
de Associação dos Distribuidores da Skol/Caracu, dos Estados de Santa Catarina
e do Rio Grande do Sul, tendo-se destacado por suas ações comunitárias. É
Conselheiro do Lar Santo Antônio dos Excepcionais. Foi Presidente do Lions
Clube São João/Navegantes, gestão 84/85, exercendo, atualmente, o cargo de
Presidente da Região. O título de Cidadão Emérito é indicação do Ver. Cyro
Martini.
Senhores Homenageados, mais uma vez o reconhecimento do Município e nós,
em nome da Mesa da Câmara Municipal de Porto Alegre, associamo-nos a esta
homenagem.
Com a palavra a Verª Letícia Arruda.
A SRA. LETÍCIA ARRUDA: Exmo Sr. Ver. Airto Ferronato, Presidente em exercício
da Câmara Municipal de Porto Alegre; Exmo
Sr. Dr. Telmo Kruse, meu querido homenageado, Senhores convidados, Senhores
homenageados, amigos dos homenageados, parentes diretos e demais autoridades
presentes. Falo em nome de todos os 33 Vereadores da Casa, principalmente, em
nome da Bancada do PDT e, também, em nome do Ver. Artur Zanella do PFL, Aranha
Filho do PFL, Wilson Santos do PL, e Vicente Dutra do PDS.
Meu querido Dr. Telmo Kruse a homenagem é para o senhor. (Lê.) “Foi num
acanhado prédio de madeira, na Zona Norte de Porto Alegre, quando ainda não
havia os espigões que proliferaram no bairro, à sombra da Igreja Cristo
Redentor, que há 46 anos o jovem Telmo Kruse abriu seu consultório médico à comunidade
porto-alegrense.
Na figura do ‘médico de família’, afetuoso e dedicado, ingressava na
intimidade dos lares muitas vezes compartilhando dos momentos familiares às
refeições.
Telmo Kruse compunha essa equipe forrada por médicos de boa-vontade e
dedicação exclusiva a seus pacientes, os quais assistiam aos doentes no
consultório, além de fazer a ‘peregrinação’ no bairro atendendo,
indistintamente, mesmo àqueles que não podiam pagar a consulta. Em
agradecimento ofereciam produtos caseiros cultivados pela família.
Quantas e quantas vidas passaram pelas mãos cautelosas e experientes
desse renomado médico, que até hoje atende gratuitamente os pacientes que
consultam na Santa Casa de Misericórdia. Ali, ele exerce a profissão desde
estudante, quando se graduou em Medicina, em 1945, na Universidade Federal do
Rio Grande do Sul. Não foi por acaso que, no sesquicentenário dessa consagrada
Instituição, o médico Telmo Kruse recebeu a medalha ‘Professor Guerra
Blessmann’, por sua atuação há mais de trinta anos na Santa Casa de
Misericórdia.
De lá para cá, o jovem Telmo só germinou sementes na área da saúde
pública, como a do Grupo Hospitalar Conceição, atualmente um dos maiores
complexos da América Latina! Esse grupo surgiu da iniciativa do Dr. Telmo
Kruse, originando, posteriormente, o Hospital Cristo Redentor.
Membro titular da Academia de Medicina do Rio Grande do Sul,
sócio-fundador da Sociedade de Anestesia do Estado e também da Associação
Médica Gaúcha, o ex-discípulo do Dr. Fernando Paulino, do Serviço de Cirurgia
do Rio de Janeiro, até hoje se dedica à Medicina Comunitária.
Ao longo desses quase 50 anos o Dr. Telmo já atendeu mais de 43 mil
pacientes, abrigando em seus braços os ‘doentes’ do bairro, como a velha árvore
que dá a sombra amiga e acolhe em seus galhos os andarilhos do tempo.
Desnecessário se faz tecer maiores comentários ao querido e célebre
médico que, em junho do ano passado, recebeu o Troféu Solidariedade, por
relevantes serviços prestados à comunidade. Por seu espírito de abnegação, amor
e doação ao ser humano no decorrer de quase meio século é que propomos o justo
reconhecimento desta Casa, ao incansável e dedicado médico de família
porto-alegrense.
Doutor Telmo Kruse, receba hoje, do povo de Porto Alegre, através de
seus representantes, a homenagem por sua conquista de trabalho na área da
saúde. E que sua dedicação sirva de exemplo para os novos profissionais do
ramo, os quais, se trilharem semelhante caminho, estarão contribuindo como o
senhor contribuiu para o avanço da medicina e da saúde do povo brasileiro!
Muito obrigada, Peregrino da Saúde!
(Não revisto pela oradora.)
O SR PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Cyro
Martini.
O SR. CYRO MARTINI: Sr. Presidente, senhores
homenageados, distintas esposas. É para nós honra e alegria poder trazer nesta
oportunidade a homenagem desta Casa e da cidade de Porto Alegre a Ladércio
Furlan. Ladércio, na qualidade de cidadão exemplar, merece como todos nós que o
conhecemos esta homenagem. Ele é natural de Apucarana, no Estado do Paraná,
nasceu em 1945, filho de José Furlan e de Olinda Ciriza. É casado com uma
gaúcha de Lagoa Vermelha, Dalva Catarina Gaiser Furlan. Seus filhos são:
Felipe, José Gaiser, Cristiane Furlan. Formou-se em Administração de Empresas,
pela Fundação Getúlio Vargas em São Paulo, em 1970. Habilitara-se
anteriormente, em 1965, como Técnico Contábil pela Escola Técnica de Comércio,
anexa à Universidade Federal do Paraná. Freqüentou em Turim, na Itália, em
1974, o curso para altos Executivos, promovido pela Organização Internacional
do Trabalho.
Então nós vemos, pela formação acadêmica, que nós estamos diante de
alguém cuja habilitação é digna de reconhecimento. E nós, de Porto Alegre, à
medida que recebemos do Paraná esta expressão que é Ladércio Furlan,
obviamente, só por isto já teríamos que demonstrar a nossa gratidão por ele ter
vindo aportar nesta terra e aqui fazer o seu ninho, para abrigar a sua família,
criar os seus filhos.
Mas não ficamos aí, quando o vemos como homem de iniciativa, de firmeza,
de criatividade, de decisão, de empenho, à testa das empresas que dirige, vemos
que sua formação acadêmica não ficou apenas nos bancos escolares, mas se
transferiu para a prática, dentro do universo do comércio, da indústria e de
serviços de um modo geral. É ele aquele a quem incumbem a administração de uma
empresa têxtil, que não fica apenas na fabricação, mas que se estende também
para a venda, para o comércio. E dentro do comércio ele também estende a sua
atividade ao serviço devido.
Mas não é apenas por este lado que devemos reconhecer o mérito desse
cidadão, sem um demérito, que Porto Alegre deve reconhecer. Se já por estas
qualidades ele merece o nosso reconhecimento, se formos examinar o seu
currículo, percorrendo mesmo que ligeiramente, vamos ver que a sua ajuda, que a
sua solidariedade, a sua angústia em favor do semelhante está lá presente no
Lar Santo Antônio dos Excepcionais. Lá ele busca fazer alguma coisa por aquela
gente que necessita da nossa ajuda. Então, eu vejo que nós não estamos tratando
de alguém que não tenha coração, porque, normalmente, nas atividades comerciais
e industriais, a razão, o sangue frio predominam sobre as pessoas. Mas com o
Ladércio isso não acontece. Ele une tranqüilamente a razão dos negócios da
indústria com o coração humano que dedica ao próximo. E, hoje, pelo testemunho
que nós temos, pelas pessoas com as quais nós conversamos, seus irmãos
Leoninos, nós sabemos que a Instituição Leonina de Porto Alegre deve também, e
muito, a Furlan. Pelo seu empenho, pela sua dedicação por querer ver as coisas
bem feitas, bem realizadas, sua destreza, sua agilidade, a sua iniciativa e
isso nós temos, com muita justiça, que reconhecer.
No momento em que nós discutíamos se as empresas de Porto Alegre devem
servir ou não o café da manhã para os seus empregados, Ladércio Furlan não dá
café da manhã, porque a lei obriga, ele dá como o justo reconhecimento ao
esforço do operário, do trabalhador. Ele não dá porque apenas faz um favor, ele
dá porque reconhece como justiça, como um dever humano do empresário. Não
porque a lei diz ou porque alguém determina, mas, sim, porque assim deve agir o
empresário, que quer ver o bem-estar da sua comunidade, do seu Município, do
seu Estado, da sua Nação. Para ele, o café da manhã, como ele dá, dar o almoço,
o café da tarde, isso não é porque a lei obriga, mas, sim, porque ele reconhece
que isso deve ser feito com relação ao empregado. Mas também com o coração. Nós
que tivemos a oportunidade, e temos, de freqüentar as suas empresas, nós vemos
que aqueles que trabalham nas empresas que ele dirige não são empregados dele,
são amigos, são irmãos, são integrantes da sua família.
A sua família não é apenas constituída da sua esposa e filhos, mas
daqueles que trabalham nas suas empresas comerciais, no seu estabelecimento
industrial. Isto para nós, que propusemos esta homenagem com uma tranqüilidade
e satisfação imensa, porque estamos propondo uma homenagem da Cidade a alguém
que para cá veio e fez por merecê-la. Num momento em que o desemprego e a
recessão grassam pelo País todo, as suas empresas são testemunhas disso, ele
contrata mais gente. Pretende ele, ao cabo do ano, ter aumentado o número dos
seus funcionários, seus amigos, para mais de 50%.
Então vejam que estamos oferecendo uma homenagem justa de Porto Alegre,
e assim gostaríamos de fazer com todos aqueles que para cá vieram, e o fazemos
na pessoa de Ladércio Furlan, estendendo a todos aqueles que para cá vieram
como ele, trazerem a sua capacidade de trabalho, o seu desejo de ver Porto
Alegre cada vez mais pungente e mais forte. A homenagem, sem dúvida, deve ser
por nós todos juntos a Ladércio Furlan, porque ele merece. Então o meu aplauso
a ele e sua família, o meu aplauso e as minhas homenagens também a ele e seus
amigos, de um modo geral e a todos os porto-alegrenses, por podermos contar
hoje, entre nós, com Ladércio Furlan. Muito obrigado. (Palmas.)
(Revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Nós concedemos a palavra ao Ver.
Isaac Ainhorn.
O SR. ISAAC AINHORN: Exmo Sr. Ver. Airto
Ferronato, 1° Vice-Presidente desta Casa, no exercício da Presidência dos
trabalhos, meu querido homenageado Dr. Mário Seixas Aurvalle, Exma
Srª Juremy Aurvalle. Nós estamos aqui na Câmara de Vereadores de Porto Alegre
participando, presenciando uma Sessão Solene em que homenageamos um grupo de
pessoas que a representação política da cidade de Porto Alegre, que a expressão
da vida social da nossa Cidade entendeu como pessoas que prestaram relevantes
serviços à cidade de Porto Alegre, que, por esta razão, recebem, da Câmara de
Vereadores de Porto Alegre, esta homenagem de outorga do título de Cidadão
Emérito da nossa Cidade. Vejam os Senhores, as Senhoras, a Resolução que regula
este título, definido na Resolução nº 731 da Câmara de Vereadores, no seu art.
1°: “fica instituído o título honorífico de Cidadão Emérito que será conferido
a todo cidadão que tenha contribuído com seu trabalho para o desenvolvimento
social, político, cultural e artístico da sociedade porto-alegrense”. Esta é a
identidade que une as pessoas que nesta tarde nós homenageamos, no caso
específico da minha indicação em um Projeto de Resolução, nós prestamos esta
homenagem a um advogado, fundamentalmente um profissional do Direito,
fundamentalmente um profissional da advocacia, que durante quase 46 anos vem
prestando aqui, na Cidade de Porto Alegre, com expressão estadual e nacional,
uma decisiva contribuição para o desenvolvimento das atividades de uma cidade,
de um complexo que é uma cidade, que envolve um conjunto organizacional, desde
a estrutura funcional e organizativa de uma cidade, com seus Prefeitos, seus
Vereadores, naquilo que ela tem, e que pulsa de maior vitalidade nas suas
atividades, com seus trabalhadores, nos seus homens simples, com seus
advogados, médicos, enfermeiros, jornalistas, radialistas e todas aquelas
pessoas que fazem a Cidade pulsar, porque é na cidade que as pessoas vivem. O
Estado, a União são abstrações, enquanto a cidade é a realidade concreta onde
os indivíduos vivem, onde os cidadãos desempenham as suas atividades.
E o nosso homenageado, que é um porto-alegrense da gema, como se diz,
recebe neste momento aquilo que nós, lidadores da atividade jurídica diríamos:
um instrumento de rerratificação da sua condição de cidadão porto-alegrense,
recebendo da sua comunidade, da Casa Legislativa da Cidade de Porto Alegre, o
reconhecimento através da outorga do título de Cidadão Emérito. E na minha
visão, fundamentalmente. o vemos como o advogado, o homem do Fórum, o lidador
do Direito, o homem que trabalha com as leis, e trabalha num dos fóruns mais
complexos, atuou e deu ênfase muito grande na sua atividade, à advocacia
trabalhista. Ao lado da advocacia do Direito de Família, na riqueza, nas
dificuldades, e nos momentos alegres que esta atividade, no exercício da
advocacia, enseja nestes dois ramos do Direito do Trabalho e do de Família. Não
fosse por isso, o nosso homenageado teria outras razões suficientes para
receber da sua Cidade aquilo que refiro como instrumento de rerratificação, que
hoje a Câmara de Vereadores outorga ao entregar o título de Cidadão Emérito da
nossa Cidade. Este reconhecimento, meus senhores e minhas senhoras, do nosso
homenageado, o advogado Mário Seixas Aurvalle tem uma dimensão maior, porque
este reconhecimento já foi feito por outras insígnias, por outras condecorações
que ele recebeu, tanto em nosso Estado como em nosso País. Exemplo disso a sua
condição, que nos orgulha muito, de Cônsul Honorário da Cidade do México em
nossa Cidade. Isto por si só, este intercâmbio cultural que a figura do nosso
homenageado faz já nos daria motivos suficientes para outorgar este título, que
é um reconhecimento do seu trabalho e da sua atividade.
Vejamos senão outras: dizia eu, exatamente, que o nosso homenageado já
tinha este reconhecimento nacional quando condecorado pelo egrégio pleno do
Tribunal Superior do Trabalho com a Ordem do Mérito Judiciário do Trabalho no
Grau de Comendador. Condecorado pelo Governo da França, mediante decreto
assinado pelo Presidente da República Francesa, Valéry Giscard d’Estaing, com
L’ordre national du Mérite, no Grau de Cavaleiro. Agraciado pela Ordem
International des Chevaliers de I’Etoile de la Paix, no Grau de Comendador.
Agraciado pela Ordem dos Advogados do Brasil, seccional do Rio Grande do Sul,
com a medalha Osvaldo Vergara, no Grau de Comendador.
Além dessas homenagens nacionais e internacionais, lhe presta também a
sua Cidade, Porto Alegre, que se junta a estas homenagens. E com humildade, a
cidade de Porto Alegre, na sua dimensão humana, nesta Cidade querida, em que
buscamos fundamentalmente melhorar a sua qualidade de vida, apesar das suas
dificuldades e das suas contradições, esta Cidade, onde eu tenho a certeza que
nos orgulhamos de viver, está plenamente satisfeita. Alguns que nasceram aqui e
outros que aqui estão presentes e alguns homenageados que fizeram a opção pela
cidade de Porto Alegre também estão
satisfeitos. Esta é uma Sessão realmente bonita de ser vista.
Quando realizamos uma Sessão de entrega de título de Cidadão Emérito, e
participamos dela, nós o fazemos porque acreditamos naquilo que estamos
fazendo. Achamos que esses atos de reconhecimento também são importantes. É o
que nos irmana e nos integra aqui hoje, neste Plenário lotado, nestas
instalações simples, mas que revelam a força e a vitalidade da nossa Cidade,
que se expressa também nos seus poderes políticos, entre os quais a Câmara de
Vereadores é um deles.
Meu querido homenageado, Professor Advogado Mário Seixas Aurvalle, o que
repito, encerrando essas minhas observações e reflexões, é que a Cidade apenas
celebra um instrumento de rerratificação da sua cidadania que o senhor já tem
de Porto Alegre, lhe outorgando juntamente com todos os reconhecimentos que eu
tive a oportunidade de referir, dentre muitos outros, a condição de Cidadão
Emérito de Porto Alegre, na certeza de que este título também representa uma nova
caminhada, e pelo que eu conheço do senhor, servirá de estímulo para continuar
desenvolvendo com seriedade, responsabilidade e profundo amor o trabalho que o
senhor vem fazendo em benefício do desenvolvimento social, cultural e político
da nossa Cidade, levando esse conhecimento da nossa Cidade para outras
fronteiras, para outros Estados e para outros países. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Luiz
Machado.
O SR. LUIZ MACHADO: Exmo Sr. Presidente deste Legislativo,
ora presidindo os trabalhos; Senhores homenageados, familiares, amigos,
autoridades, Vereadores, é com satisfação que hoje assomo a esta tribuna para
prestar esta homenagem a Ermógenes Cardoso.
Antes, apresento os senhores visitantes e homenageados: Sr. Telmo Kruse,
Srª Dalva Furlan, Srª Juremy Aurvalle, Srª Dinah Borges, Sr. Ermógenes de Paula
M. Cardoso, Srª Marisa Vargas, Sr. Ariovaldo Alves Paz.
Caba-nos, homens públicos, reconhecer aqueles que no dia-a-dia, na luta,
destacaram-se na sua vida, merecendo, hoje, todos os homenageados, o título de
Cidadão Emérito de Porto Alegre. Sou obrigado a fazer um relato, porque a minha
vida pública iniciou quando cheguei nesta Casa em 1988, oriundo dos trabalhos
comunitários, representando uma parcela da sociedade de Porto Alegre. Quero
afirmar que esta Casa tem todos os segmentos da sociedade representados. É uma
Casa que tem profissionais liberais e líderes comunitários; hoje, a minha
homenagem a Ermógenes Cardoso é de um líder comunitário para outro líder comunitário.
Ermógenes de Paula Mattos Cardoso, natural de Caxias do Sul, filho de
João Nunes Cardoso e dona Joaquina Mattos Cardoso. Em 1953 contraiu núpcias com
dona Dinah Borges, de cujo casamento nasceu a única filha, Iara, casada com o
Sr. Luiz Sérgio Quirolo Pita, dando-lhes dois netos: Saimon e Geison
Muito cedo iniciou seu trabalho, tendo aos 18 anos de idade, fundado a
Indústria Calçados Cardoso, onde na década de 50 vendia tamancos (um costume da
época), parte da moda. Até chegar em modelos mais avançados. Dedicou-se a sua
empresa até maio de 1989, quando então se aposentou.
Desde 1960, Ermógenes Cardoso se destacou como líder comunitário. Foi
Coordenador do Plano Comunitário para colocação de iluminação pública na Rua
Osvaldo Aranha, Zona “a” de Cidreira, onde foi mentor, fundador e patrono da
Associação dos Amigos da Zona “A” de Cidreira.
Em Porto Alegre, no Bairro Cavalhada, onde reside desde 1952, foi
fundador do Lions Santa Flora.
Exerceu a Vice-Presidência do Conselho Comunitário do Bairro Cavalhada.
Foi Coordenador do Plano Comunitário para calçamento da Rua Padre João
Batista Reus. Sempre colaborou com a comunidade, tendo participado de
movimentos comunitários nas Paróquias São Vicente Mártir e Santa Luzia.
Recebeu da comunidade diversas homenagens por relevantes serviços
comunitários prestados.
Além de sócio benemérito do Riograndense Tênis Clube, é seu Conselheiro
nato, tendo exercido diversos cargos de direção desde a sua fundação em 1953;
sendo o seu Presidente pela terceira vez, reeleito por aclamação em assembléia
geral. Hoje um clube de pujança na Zona Sul da Cidade.
O crescimento e o desenvolvimento desta comunidade têm a mão e a
experiência de Ermógenes Cardoso.
Fiz este relato de sua vida, Cardoso, porque o conheço e repartimos o
mesmo pão, fomos companheiros de luta comunitária na zona e vizinhos da sua
empresa de calçados Cardoso, empresa que era pujante até então no Bairro
Camaquã. Este trabalho seu dignifica o homem, dignifica o título de Cidadão
Emérito de Porto Alegre, pelos seus serviços prestados a nossa Cidade. O povo
de Porto Alegre tem o dever de reconhecer o filho de Caxias que hoje passa a
ser também filho de Porto Alegre. Com essa dedicação, com esse carinho, eu
quero dizer a Ermógenes que o povo de Porto Alegre, o povo da Zona Sul, os teus
amigos, os companheiro de luta, seus familiares, seus amigos do Clube
Riograndense reconhecem o teu trabalho à testa daquele grande clube. Um cidadão
se mede pelo seu trabalho, pelo seu ardor, pela sua luta, não somente pelo
cargo que ocupa, mas pelo trabalho do dia-a-dia. Eu, hoje, ao fazer esta
homenagem, faço uma homenagem a quem conheço há mais de 30 anos. Em 1960, pude
ver a obra de Ermógenes na sua empresa com seus empregados e dizer que saiu de
um cidadão comum e trabalhador comum a um médio empresário no setor calçadista
da nossa Cidade, do nosso Estado para honrar, para dignificar a nossa Cidade.
Hoje, aposentado pelos altos serviços prestados a nossa Cidade.
Aposentou-se na teoria e não na prática, porque nós, cidadãos de bem, nunca nos
aposentados. Nunca. E temos que dizer isto aqui aos nossos avós, aos nossos
irmãos, não vamos nunca nos aposentar para a vida, porque tu jamais se
aposentaste no nosso sentimento, Ermógenes. Continuas produzindo e tens muito
para dar a nossa Cidade, e para os nossos bairros da Zona Sul. Espero que a tua
grandeza sirva de exemplo aos demais. Aposentados são aqueles que deixam de
viver. Aposentado, para mim, é aquele que não pode produzir, não pode dar
idéias, porque idéias não são metais que se fundem. Idéias se discutem e se
conquistam e se debatem.
Meu muito obrigado a todos os presentes e aos homenageados com um
carinho todo especial deste Vereador, oriundo das camadas menos favorecidas da
sociedade. Parabéns e felicidades a todos os senhores. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra ao Ver.
Nelson Castan.
O SR. NELSON CASTAN: Ver. Airto Ferronato, que
preside esta Sessão Solene. Meu querido homenageado Ariovaldo Alves Paz. Srs.
Vereadores aqui presentes, senhoras, meu amigo Macalé, a quem faço uma
homenagem especial, Senhores. (Lê.)
“A vida é um somatório de experiências. Aprendi, no convívio com o mundo
do carnaval, que ela pode ser comparada a um desfile na avenida. A infância são
os ensaios, onde a quadra está cheia de sonhos e a expectativa cresce a cada
dia. A adolescência é a concentração, a incerteza entre a vitória e a derrota,
o nervosismo e a tensão antes da entrada. A juventude é o grito de guerra, a
força e a empolgação que explodem na avenida. A maturidade, meu caro Ariovaldo,
esta vem depois do desfile. A maturidade está em saber que ele, na verdade,
nunca termina. A cada segundo, a cada dia, a cada ano, estamos sempre na
avenida.
É exatamente este o sentido desta homenagem. No samba-enredo da vida,
meu amigo Ariovaldo, a sua nota é 10. Não apenas pelos 19 anos em que fostes
puxador de samba, ou quando fostes ritmista ou cantor profissional, ou pelas
homenagens e prêmios que tens recebido durante estes anos todos. Isto tudo, sem
dúvida, é muito importante, mas ao nosso ver, não é o fundamental. O que mais
toca, o que dá a harmonia perfeita e o ritmo desta homenagem, são os seus
amigos que hoje vieram aqui lhe abraçar. Eles são os frutos mais valiosos, o
troféu mais desejado, o prêmio de campeão que nem todas as escolas podem
ganhar.
Vejo aqui companheiros e companheiras dos Bambas da Orgia e de várias
outras escolas. Vejo jornalistas do carnaval, vejo sua família, vejo o povo do
samba, vejo outros tantos, seus amigos. No seu samba, Ariovaldo, ninguém
atravessa.
Dos tempos do carnaval da Baronesa, comandado pelo Valinho, com o seu
Macalé de Rei Momo e a dona Beatriz Seltenreich como rainha, muita coisa mudou
na nossa Cidade e no Brasil. O nosso diretor de bateria, lá em Brasília, parece
que esqueceu que quem faz o carnaval é o povo. Mas nada disso adianta. Se tiver
que tirar um carro do desfile ou diminuir as alegorias, não tem problema. A
gente vai para a avenida de qualquer jeito, porque nos braços da nossa
porta-bandeira vai a esperança e a emoção.
É esta mesma emoção que me faz lembrar de algumas passagens do seu
Ariovaldo Paz. Uma delas aconteceu na hora da aposentadoria da gráfica onde
trabalhou por 35 anos. Quando o seu Ariovaldo foi comunicar ao seu chefe que
era hora de “botar a viola no saco”, os dois choraram juntos. De parte dos
funcionários, seus colegas, ele foi homenageado pelo mais novo deles, o qual
havia sido treinado pelo próprio Ariovaldo. Aos 16 anos, o seu Ariovaldo
cantava com o jazz Tupinambá para o Consulado América (sic), no Clube do
Comércio. Pois sabem o que ele fez com os seus primeiros salários? Comprou uma
máquina de costura para a mãe e começou a dividir todas as despesas de casa.
Mais do que um homem do samba, mais do que um amigo e pai, estamos homenageando
uma trajetória de vida.
Além disso, Ariovaldo Paz foi por várias gestões Presidente dos Bambas
da Orgia, é membro do Conselho de Presidentes das Sociedades Carnavalescas e
foi até a Argentina com sua escola para divulgar a cultura gaúcha e
porto-alegrense.
Poderia continuar aqui descrevendo as qualidades pessoais e
profissionais do seu Ariovaldo, ou tentando exprimir em palavras o carinho e a
gratidão dos companheiros e companheiras dos Bambas e de todos os que
participam e gostam do carnaval. Prefiro, entretanto, deixar que o samba
enriqueça complemente esta homenagem. Que a música da Banda Pagode do Dorinho
fale por todos nós. Muito obrigado.”
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Nós anunciamos a Banda Pagode do
Dorinho, que veio prestar a sua homenagem ao Sr. Ariovaldo Alves Paz.
Informamos, também, aos Senhores, que além dos Vereadores que usaram a
palavra, estão presentes nesta Sessão os Srs. Vereadores: Wilton Araújo, Martim
Aranha Filho e Ervino Besson.
Passamos à entrega dos títulos.
(É feita a entrega dos títulos aos homenageados.) (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra ao nosso
primeiro homenageado, Dr. Telmo Kruse.
O SR. TELMO KRUSE: Em primeiro lugar, peço
desculpas, pois pedi ao Sr. Presidente para falar aqui do meu lugar, pois 47
anos nas costas, de profissão, já é alguma coisa que não dá para ficar de pé
mais tempo.
Exmo Sr. Presidente da Mesa. Ver.
Airto Ferronato; colegas homenageados; meus senhores; minhas senhoras; meus
amigos, principalmente meus filhos. (Lê.)
“É uma grande honra, a única e
maior que poderia esperar, recebendo da comunidade porto-alegrense o título de
Cidadão Emérito de Porto Alegre, representada aqui pela sua colenda Câmara
Municipal, tão bem dirigida pelo seu Presidente Antonio Hohlfeldt e pelo seu
Vice-Presidente Airto Ferronato.
Expresso aqui meus mais profundos agradecimentos à Verª Maria Letícia
Arruda, que apresentou meu nome para receber esta homenagem.
Todas as histórias que são os cofres da memória têm um início. A minha
começa com meu nascimento nas mãos de uma parteira alemã, famosa na época, que
no fim de sua vida, teve como médico este que vos fala. Meu pai de origem
alemã, descendente do primeiro Kruse que veio para o Brasil em 1828, para São
Leopoldo. Casou-se um pouco antes da I Grande Guerra com uma alemã vinda para o
Brasil no início do século XX.
Eu teria que ser naturalmente alfabetizado em alemão no Hilfsverein
Schüle, hoje o famoso Colégio Farroupilha. Como seu curso só valia na Alemanha
para quem quisesse seguir a carreira universitária, minha mãe em boa hora
decidiu que eu completaria o ginásio no Colégio Rosário.
Terminei assim o curso Ginasial nesse estabelecimento, naquela época
dirigido pelo inolvidável Irmão Afonso, iniciador da Pontifícia Universidade
Católica, que no ano de nossa formatura, em 1936, teve a coragem de aumentar,
provocando grandes protestos, as mensalidades em 40%. Mas não era inflação, ele
estava começando a comprar toda a quadra da Av. Independência.
Até hoje sigo o lema aprendido com o Professor Irmão Weibert, francês da
Alsácia Lorena que tem uma herma em sua honra, em frente ao Colégio Rosário.
Ele, um dia, nos perguntou: ‘Vocês sabem o que é PBS?’ E um dos crentes em
Química, que naquele tempo era Chimica, disse: ‘Sulfato de Chumbo’. Isto era a
famosa galena precursora do nosso rádio atual, com a qual ouvíamos a Rádio
Gaúcha, instalada em frente à Hidráulica Moinhos de Vento, no ponto mais alto
de nossa Cidade, naquela época. Até hoje, ali existe ainda um mirante.
Com a Reforma do Ensino pelo Estado Novo, implantado por Getúlio Vargas,
tivemos que fazer mais dois anos de curso pré-médico, no Colégio Júlio de
Castilhos, naquela época junto à Escola de Engenharia e Faculdade de Direito,
que tinha como porteiro, o cidadão Lupicínio Rodrigues, que ficaria famoso como
um dos mais célebres compositores gaúchos.
Conseguimos uma das 60 vagas oferecidas para transpor os umbrais da
Faculdade de Medicina de Porto Alegre, praticamente a única existente, pois a
outra, a Escola Médica Cirúrgica estava agonizando e era de orientação positivista,
de acordo com o tipo de Governo de Borges de Medeiros e só valia para a prática
da Medicina no Rio Grande do Sul.
Logo que entrei para a Faculdade comecei a freqüentar uma enfermaria da
Santa Casa, a 9ª Enfermaria, dirigida pelo Professor Aurélio Py, onde dei os
primeiros passos na forma de examinar um doente e, poder tratá-lo. Fui
orientado por um clínico muito competente, Luiz Fayet, profundo conhecedor de
Patologia, aproveitando suas discussões em torno dos casos com os colegas Edgar
Eifler e Tenack Wilson de Souza. Neste serviço fiquei por quatro anos.
Mas minha aspiração era a cirurgia e a conquista de uma das seis vagas
oferecidas pela Assistência Pública, único serviço de Emergência existente
naquela época e mantido pela Prefeitura. Era um posto de atendimento localizado
a Rua Cel. Vicente esquina com a Rua Comendador Manuel Pereira, atendido por
seis quintanistas e seis doutorandos da Faculdade de Medicina, comandados por
médicos plantonistas, e com um serviço de ambulância equipado com medicamentos
de urgência, um enfermeiro, um estudante e o motorista.
Meu desempenho na Assistência Pública, depois passando para o Hospital
de Pronto Socorro inaugurado em 1944, foi início de minha carreira como médico
de família. Na década de 1940 aprendia-se cirurgia freqüentando uma Enfermaria
da Santa Casa. A mais destacada daquela época já era a 10ª, então dirigida pelo
Professor Emérito Alfeu Bicca de Medeiros e, portanto, a mais procurada pelos
acadêmicos. Era muito difícil obter uma vaga naquele serviço.
Eu não era de Alegrete, nem tinha parentes na fronteira, mas tive a sorte de ser convidado por um dos
assistentes de Alfeu Bicca de Medeiros, o Dr. Fernando Pombo Dornelles, que
fazia parte do quadro de cirurgiões do Hospital de Pronto Socorro, e atualmente,
ainda exerce o cargo de Diretor da 10ª Enfermaria.
Houve uma vaga na Enfermaria com a convocação de um dos internos para o
Serviço Militar, pois estávamos em plena Guerra. Foi a grande chance de minha
vida. Comecei a auxiliar diversos cirurgiões assistentes da 10ª; no Pronto
Socorro e na Clínica Privada. Era a maneira de progredir na arte da cirurgia.
‘Trabalhando sem esmorecer para não desmerecer’, outro lema que me valeu muito,
foi transmitido pelo nosso paraninfo na formatura, em 1945, Professor Ivo
Correa Meyer, destacado oftalmologista.
Auxiliava exímios cirurgiões como Fernando Becker e Luis Carlos Ely, que
me entregaram, ainda como doutorando, um aparelho de anestesia moderna, que
possibilitou o grande salto da cirurgia que foi a abertura de tórax.
Tudo isso me valeu para ficar em Porto Alegre e começar a clinicar em
minha Cidade natal. Observando o tipo de chamado na Assistência Pública, eu e
meu companheiro de plantão, Raul Seibel, hoje Diretor do Hospital Santo
Antônio, verificamos que o lugar ideal para abrir um consultório seria a Zona
Norte, habitada por operários que moravam perto das indústrias onde
trabalhavam.
As indústrias que ali se instalaram, fugindo da Rua Voluntários da
Pátria, em virtude da enchente de 1941, a maior já acontecida no Estado. O
operário havia adquirido um terreno em prestações e levantado sua moradia,
querendo assistência médica para sua família. Na ótica de hoje, isto parece
impossível que uma clínica progredisse em zona de operários. Mas a realidade
daquela época era outra, Seibel, atendendo às crianças e eu, aos adultos,
cobrávamos cinco mil réis a consulta. Mas o salário mínimo era de cento e vinte
mil réis, imaginem, com um salário ele podia consultar 24 vezes em um mês.
Hoje, nem pensar!
O Sr. Alfeu Bicca de Medeiros me perguntou: ‘Menino, onde você irá
trabalhar? Já está operando direitinho. Poderá ficar rico em qualquer lugar do
nosso interior’.
Eu respondi: ‘Raul Seibel e eu, já decidimos ficar na Capital e abrir um
consultório no Passo da Mangueira’. Ele olhou para mim e disse: ‘Com esta cara
que você tem de menino de dezesseis anos quem é que irá te consultar ou te
chamar?’ Fica aqui na Enfermaria que irás ter muito tempo para trabalhar
comigo, e realmente estou até hoje trabalhando na mesma, fazendo 47 anos de
atividade.
Naquele instante, apesar de ser trabalho absolutamente gratuito
executado por todos, desde o Diretor, Chefes de Clínica e Assistentes, havia
chegado a grande oportunidade para trabalhar em uma Enfermaria do gabarito da
10ª.
Para parecer mais velho cultivei logo um bigode, muitos talvez ainda se
recordem desse meu visual. Um dia. quando resolvi tirar o bigode, com meu novo
aspecto, assustei Irmã Euzébia, uma freira de invulgar personalidade, que
completou seu jubileu de ouro na Enfermaria.
Ao me estabelecer no bairro, fiz o primeiro contato com o Vigário da
Paróquia, Padre João Mascarello, apresentado pelo comerciante mais antigo da
zona, Zeferino Dias Filho. Padre João logo nos conseguiu uma sala para
trabalharmos à sombra da Igreja, ainda de madeira construída em terreno doado
pela Família Dernardi, que procedeu ao primeiro loteamento, construindo a Vila
Floresta.
Além deste consultório, servimos como médico no Hospital da Aeronáutica
em Canoas, e por uma hora diariamente, atendemos na Farmácia São Geraldo, de
propriedade do saudoso farmacêutico Romeu Rosa, compadre do então Cônego
Vicente Scherer da Paróquia São Geraldo. Com uma Clínica muito movimentada,
trabalhávamos praticamente dia e noite, atendendo desde partos no Hospital
Moinhos de Vento e São Francisco, além de inúmeras cirurgias de todas as
matizes.
Mas nunca abandonamos a Enfermaria, dirigida desde 1948 pelo Dr.
Fernando P. Dorneles, chegando em um ano bissexto a comparecer nos 366 dias do
ano, pois também a freqüentávamos aos domingos e feriados.
Na década de 1950, o meu fichário já contava com mais de 10.00 clientes
particulares. Isso chamou a atenção de um Vereador, Líder do Partido Social
Progressista, Adalmiro Moura, que me convidou, propondo a minha eleição para
Vereador, baseado nessa clientela. Declinei do convite, dizendo que não tinha
veleidades políticas.
Mas a década de 50 deu outra guinada na minha vida, apareceu no meu
consultório, um cidadão, propondo a construção de um Hospital na Zona Norte.
Tratava-se de Jahyr Boeira de Almeida, que também na sua visão escolheu este
bairro, hoje una verdadeira cidade. Interessante é reviver aqui o diálogo com
este homem que eu não conhecia e que se tornaria um verdadeiro gigante,
construindo com sua audácia e tirocínio, o maior conjunto hospitalar da América
Latina. Falou assim: ‘Vim procurá-lo após uma pesquisa, pois olhando a Cidade
do alto do Morro Santa Tereza, podíamos ver, que em virtude do Rio Guaíba, o
desenvolvimento da Cidade teria que ser para a Zona Norte’ e então me convidou
para construir um hospital de oitenta leitos. Eu estava em plena faina de
consultório, e para me ver livre, respondi: ‘Pena que o senhor chegou tarde,
pois sou sócio fundador, com mais nove colegas do Hospital Fêmina. Mas ele logo
argumentou que o Fêmina era um empreendimento de corretores e levaria muito
tempo para ficar concluído e realmente quem terminou o Fêmina foi Jahyr Boeira
de Almeida, quando comprou seu controle acionário. Logo expôs seu plano,
precisava de 10.000 contos para executar a obra, começando com dez sócios,
dispondo cada um de 50 contos para formação da sociedade piloto.
Dei então para ele o nome de pessoas do bairro, entre médicos,
industriais e comerciantes, imaginando que seria muito difícil a empreitada.
Após duas horas, para meu espanto, ele estava de volta com as seguintes
palavras: ‘Está fundado o Hospital. Teremos hoje à noite uma reunião na
Churrascaria Santa Tereza’. Integrei com Zeferino Dias Filho e Frederico Dihl,
então Prefeito de Viamão, o Conselho Fiscal; passando desde sua inauguração em
1958 a exercer a função de Diretor Técnico.
Procurei logo saber quem era Jahyr Boeira de Almeida, seu currículo era
bom. Prático de farmácia, era dono de um Hospital em Estação, então distrito de
Getúlio Vargas, e proprietário da Farmácia Probo, na Av. Presidente Roosevelt,
primeira farmácia em Porto Alegre a atender durante 24 horas. Quinze dias após,
a Phillips do Brasil me telefonava perguntando se existiam camas e toda a
aparelhagem para instalar um hospital de oitenta leitos por 2.500 contos a
serem pagos em 10 meses.
Esta foi a semente fecunda do Grupo Hospitalar Conceição que daria
muitos frutos, atingindo sob sua direção 2.000 leitos.
O Passo da Mangueira, hoje Bairro Cristo Redentor, era e é um solo
privilegiado, onde tudo prospera, aí está o espetacular Jardim Lindóia, novo
conceito em construção de Bairro, o Lindóia Tênis Clube, o Rotary Club Passo da
Areia, a Escola Particular São Judas Tadeu, fundada em 1946, por Vera Romak
Alves, transformando-se em 1957 em ginásio e em 1970 forma a Faculdade São
Judas Tadeu e o Colégio Santa Dorotéia, hoje com mais de 2.000 alunos.
Jahyr Boeira de Almeida também foi pioneiro em Transporte Aéreo de
pacientes em aviões e helicópteros no Brasil, construindo os primeiros
heliportos no Hospital Cristo Redentor e Conceição.
Hoje todo este patrimônio encontra-se sucateado nas mãos do Governo em
insólita intervenção da Ditadura, assim conseguindo terminar com carreira de um
empresário com letra maiúscula.
Trabalhamos junto com Jahyr por mais de dezoito anos, como Diretor
Técnico da organização, mas nunca abandonamos o consultório no Centro, na Rua
dos Andradas, por visão de Berenice, minha esposa desde 1944, que me
profetizou: ‘Um dia poderá acontecer algum problema e tu não terás para onde
ir’.
Realmente, com a intervenção do Governo, ficamos apenas mais um ano
trabalhando no Hospital Cristo Redentor, abandonando o mesmo, pois sua debalde
nos entristecia e tirava o nosso ânimo. Hoje felizmente, estamos com o
consultório apenas no Centro, não sendo mais como me denominavam no principio
de minha profissão, médico de fim de linha.
Aqui estamos agora
recebendo um título honorífico que nunca imaginávamos merecer, muito feliz, mas
com o coração confrangido com a situação estabelecida! A parca inexorável, que
tantas vezes procuramos afastar dos nossos doentes, roubou-nos há dez dias
nossa companheira de quase 50 anos de convívio: Berenice. Aos 28 anos já era
responsável por quatro filhos, tendo ao seu lado um homem que não tinha
horário, que não tinha tempo para o lazer, procurando sempre atender seus
pacientes dia e noite, da melhor maneira possível. Felizmente nesta hora tenho o
apoio dos filhos todos casados por mais de 15 anos, o que hoje é um fato
inusitado dentro da nossa estrutura social.
O filho mais velho, Everton, médico que não quis seguir a minha linha no
exercício da medicina, dizendo que tinha aprendido muito comigo, pois menino de
8 anos não esquece quantas vezes estávamos prontos para assistir futebol e eu
dizia ‘vamos de uma vez, antes que toque o telefone e o pai tenha mais um
chamado’ e lá se ia nosso programa. Tornou-se radiologista, esta difícil
especialidade da Medicina, é casado com Maria Henriqueta Luce Kruse, professora
da Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul – UFRGS e líder em sua profissão, tendo dois
filhos, Felipe e Augusto.
Ivan, formando com Janice Almeida Kruse uma dupla de administradores de
empresas.
Jane, também enfermeira e professora da Escola de Auxiliares de
Enfermagem do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – SENAC, líder de
Bandeirantes nas horas de lazer, casada com Rogério de Castro Oliveira,
arquiteto e professor na UFRGS, com duas filhas, a neta mais velha Helena,
Fernanda; e finalmente Janice, que nasceu com dez minutos de atraso em parto
gemelar, terminando o Curso de Direito na Pontifícia
Universidade Católica – PUC, casada com Danilo Maia, advogado
com bom trabalho no seu metier, brindando-nos com dois netos, Juliana e Tiago.
Todos unidos me dando força nesse momento crucial.
À minha família tão bem constituída, agradeço profundamente a paciência
em aturar um pai que eles viram toda a vida de terno e gravata, sempre pronto a
atender a Clínica.
Não posso aqui deixar de nomear aos que me ajudaram a atender essa
Clínica, que hoje conta com mais de 43.000 mil clientes particulares e
cadastrados no consultório do Centro, onde contei, nos primórdios, com Olga
Correia, uma auxiliar que roubamos do Hospital Petrópolis, que até hoje
trabalha com o Dr. Walter Ghezzi, meu companheiro de consultório por muitos
anos; Maria Ilse Bicca Gamerro, que trabalhou comigo por mais de trinta anos
até aposentar-se, sua irmã Estela Bicca Borne, já aposentada, continua
trabalhando conosco há trinta anos na Clínica, hoje com sangue novo de Mari
Angela Delanez.
Aos médicos que trabalharam e ainda trabalham comigo: Telmo Marcontonio
Cunha, que por mais de doze anos, desde o tempo de estudante me acompanhou,
agüentando o ritmo do intenso trabalho, João Jorge Deud José, 18 anos, Flávio
Ferreira, Carlos Bocaneira Koch, junto conosco desde a instalação do Serviço de
Parto Psico-Profilático. Raul Moreira Filho, nosso prestimoso companheiro nos
diagnósticos ginecológicos. Tadeu Stringari, trabalhando hoje na PUC, e
atualmente tenho como companheiro Carlos A. Fuhrmeister, nosso instrutor de
cirurgia na 10ª Enfermaria full time, acompanhado de sua esposa, Alida
Fuhrmeister, anestesista competente. José Cláudio Lupi Kruse, meu sobrinho, que
junto comigo esteve por 12 anos no consultório, agora já independente,
atendendo os casos cardiológicos e equilibrando com sua juventude a minha faixa
etária. Franklin Veríssimo pranteado companheiro de mais de quarenta anos,
acompanhando com seu tirocínio nossos casos Clínicos, dando seu apoio nos
pós-operatórios.
A todos, meus agradecimentos, principalmente, à Câmara de Vereadores,
que por indicação da brilhante Vereadora e única representante do sexo frágil
na Câmara, Maria Letícia de Arruda Timm, que carrega geneticamente, o vírus da
política, herdado de seu pai, Wilson Arruda, pioneiro na Vila Ipiranga com sua
Farmácia e destacado político comunitário.
Aos meus 43 mil clientes representados aqui por muitos presentes que se
tornaram verdadeiramente amigos. Aos meus companheiros do Rotary Club Porto
Alegre Nordeste, a todos o meu mais profundo agradecimento, congratulando-me
finalmente com os demais homenageados nesta oportunidade.” Muito obrigado.
(Revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Sr. Ladércio
Furlan.
O SR. LADÉRCIO FURLAN: Exmo Ver. Airto Ferronato, Presidente em exercício
desta Casa; Exmo Ver.
Cyro Martini e demais Vereadores; autoridades presentes, amigos, meus amigos.
Sinto-me honrado pelo título que esta Casa está-me concedendo, juntamente com
cidadãos tão ilustres, aos quais eu rendo também minha homenagem. (Lê.)
“Porto Alegre
Há vinte anos / espraiada no Guaíba / e ancorada nos mansos morros / encontrei Porto Alegre
A opção de viver aqui / surgiu da maneira que / surgem as grandes
paixões:
De repente
Vinte anos / encontrei a Dalva
Casei-me / vieram os filhos
Feliz com a terra
Trouxe também um irmão, cunhada e sobrinho
Porto Alegre
Do Brique da Redenção / do Flacão, Kleiton e Kledir / do ‘Até a pé nós iremos’ / do Sampaulo / do ‘Papai é o maior’ / do Stockinger
Da Probebidas Skol, sempre Skol
Do Dante de Laytano
Da Kenwood, a roupa da gata / do Meu Clube de Lions / do Cyro Martini
Porto Alegre
Sim
‘Sinto uma dor infinita / das Ruas de Porto Alegre / onde jamais
passarei’
Permita Quintana, oh. Mário Quintana / que eu utilize os seus versos
para
dizer que em cada rua das ruas que passei / encontrei amigos, muitos amigos.
Porto Alegre
‘Há tanta esquina esquisita
Há tanta moça bonita
Nas ruas que não andei / (e há uma rua encantada
Que nem em sonhos sonhei...)’
Nessa rua de sonhos sonhados, vivendo uma realidade
/ construí uma casa que fiz de meu lar.
Nessa Porto Alegre, tri legal
Essa cidade que passou há 20 anos a ser minha
Passo hoje humildemente a ser dela.
‘Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada
Serei um pouco do nada’
Serei um cidadão a mais
Que se foi, mas que levou / consigo o amor por esta cidade.”
Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra ao Sr.
Mário Seixas Aurvalle.
O SR. MÁRIO SEIXAS AURVALLE: Exmo Sr. Presidente
da Câmara Municipal, Exmos Srs. Vereadores que integram esta Câmara,
em especial ao meu prezado amigo Ver. Isaac Ainhorn, e pela sua amizade
atribuiu-me qualidades que não possuo, mas que de qualquer maneira sou grato a
Sua Excelência. (Lê.)
“Durante o curso de minha, fui agraciado, ainda que não merecidamente,
em algumas oportunidades. Galardoado por duas vezes pelo Governo da República
Francesa, pela Ordem dos Advogados do Brasil, Secção do Rio Grande do Sul, pelo
Tribunal Superior do Trabalho, tomei sempre tais homenagens como altamente
honrosas e de sempre carinhoso recordar. Confesso-vos, porém, neste instante,
que a láurea que me conferistes, de Cidadão Emérito de minha Cidade, todas
essas homenagens suplanta e me comove.
Tenho vivido, invariavelmente, preso a esta terra, a este nosso sempre
renovado e amável Porto dos Casais. Dela não quis jamais afastar-me, ainda que
lisonjeado por convites oficiais, por demais envaidecedores, mas que, se
aceitos, levariam a que abandonasse, por força do exercício de tão condignas
incumbências, o silencioso andar por nossas ruas, a contemplação votiva de
nossos velhos casarões, e, sobretudo, o convívio de amizades que comigo se
entrelaçaram, motivando-me os passos e enlevando-me o coração.
Toda a minha vida foi dedicada ao desempenho da profissão de advogado,
ao ofício de Professor de Direito e, nos últimos anos, também à função de
Cônsul do México. Nunca fiz nada mais. Nunca fui ou quis ser mais do que isto.
Foi este, por assim dizer, o contorno cotidiano de meus dias, sem lampejos de
efêmera vaidade ou falsos ornamentos de insopitável mais querer, Em tais
condições, pois, é que fui tecendo, desde longínqua e esperançosa juventude até
aos tristes preâmbulos de minha velhice, toda a contextura de meu ser.
Importa ressaltar, nesta altura, que não faria senso prosseguir, sem
antes abrir um parêntese para fazer uma referência deveras importante.
Não posso nem quero deixar de registrar uma especial palavra de grande
carinho para com a minha mulher, que tanto me auxiliou durante minha vida,
tratando-me com gentileza e inclusive colaborando nos meus trabalhos
profissionais.
Prosseguindo, feito esse parêntese, uma coisa devo confessar. Algo,
jungindo-me à frágil condição humana, levou-me a outro sentido de ambição.
Acalentei, vezes sem contar, revê-lo agora, o sonho de que, algum dia, poderia
ser reconhecido por minha cidade como um inconteste vigilante da Lei, da
Justiça e do Direito. Nunca imaginei, entretanto, a forma como isto poderia
realizar-se, nem quando, nem onde. Sentia apenas que ela estava em mim, que se
repetia e me confortava, constituindo-se, enfim, como diferente e ansiosa
ambição, que eu pressentia ser quase inatingível e tão distante como um sonho
impossível.
É de fazer cabedal que não nos nega a vida, porém, suas compensações,
meus nobres Srs. Vereadores.
Há muitos anos, anos que não os guardo mais com exatidão cronológica,
lembro que entre a leitura de grossos alfarrábios de Direito e de outros tantos
livros de poéticos devaneios, tomei conhecimento de bela e antiga lenda, que se
resumia na doçura de um conto onde se mostrava toda constância na busca pela
realização de um sonho.
Sinale-se que em antigo mosteiro de Portugal, num tempo que já se ia
perdendo no rolar dos séculos, vivia um velho monge, a uma só vez, laborioso e sonhador,
voltado por vontade própria à condição de amoroso floricultor dos jardins da
Ordem. E foi assim, como jardineiro, que passou a buscar, em diuturno trabalho,
a possibilidade de ver desabrochar a encantadora rosa azul das legendas do
Oriente, de que tivera notícia ao ler quase esquecidos poetas e cronistas
medievais. Para tanto, aquele monge, mesclava sementes, reverdecia brotos,
renovava enxertos, num incessante trabalho de perpétua busca de uma rosa de cor
inexistente.
Só e apenas tal propósito passou a presidir-lhe a motivação da vida,
dividindo, assim, seu tempo entre as orações do ofício e a incansável renovação
do mesmo ingente esforço. Passavam-se os dias e os anos sem que ele jamais
alcançasse as bênçãos confortadoras da efetivação de seu intento.
Já velho e exaurido, porém, um dia, almas bondosas deram-lhe a ilusão da
verdade. Mãos amigas simularam-lhe com precisão uma viçosa flor de seda azul,
que levaram até ele, já recolhido nesta altura ao silêncio de sua cela. Viu,
assim, o velho monge, transformar-se em realidade a imagem de seu sonho. Viu
desabrochada, enfim, diante de seus olhos, já embaciados pelo tempo, na ponta
de uma verde haste, a tão desejada rosa azul. Era toda a compensação de um
profundo anseio, consubstanciado no conforto de uma ilusória flor.
Em meu caso, fostes vós, representantes lídimos desta nossa e minha
cidade, que quisestes prestar-me a graça desta derradeira homenagem. Destes-me,
com imensa bondade, a concretização do que sonhei. Sinto-me por isto tão
comovidamente grato a vós, amigos Vereadores, por me terdes prodigalizado esta
tão alta, benevolente e enobrecedora distinção.
Muito obrigado, pois, por vossa generosa dádiva.
Muito obrigado pela vossa rosa azul.”
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra ao Sr.
Ermógenes de Paula M. Cardoso.
O SR. ERMÓGENES DE PAULA M.
CARDOSO: Sr. Presidente da Câmara de
Vereadores; Senhores Vereadores, senhores homenageados, meus amigos, todos
presente. Usar da palavra, para mim, não é muito fácil, não sou um orador, mas
gostaria, neste momento, de retribuir esta honra de hoje, repartir este mérito
que foi além do merecimento. O trabalho comunitário que foi feito por minha
pessoa foi pouco por este merecimento de hoje.
Quero dividir este mérito com minha esposa Dinah e com meus companheiros
que sempre me ajudaram, meus familiares que sempre incentivaram o meu trabalho
até hoje, aos Vereadores que me deram essa honra deste título, muito
especialmente ao Ver. Luiz Machado. Muito obrigado. É o que eu tinha a dizer.
Obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Nós concedemos a palavra ao Sr.
Ariovaldo Alves Paz.
O SR. ARIOVALDO ALVES PAZ: Exmo Sr. Mário Seixas Aurvalle, Exmo Sr. Ladércio Furlan, Exmo Sr. Telmo Kruse, Exmo Sr. Ermógenes Cardoso, Exmo Sr. Presidente da Casa, Ver. Airto Ferronato, o
meu profundo respeito. Ilmo Sr. Alfredo Raimundo, muito digno
Presidente das Associações das Entidades Carnavalescas de Porto Alegre e do Rio
Grande do Sul, e meu particular amigo, Ilmo Sr. Juarez Rosa e Silva,
Diretor dos Recursos de Consultoria, a toda a família carnavalesca de Porto
Alegre, a minha querida azul e branca dos Bambas da Orgia, meus familiares,
meus amigos, meu prezado Ver. Nelson Castan, Senhoras e Senhores. (Lê.)
“A vida tem momentos que marcam para sempre. A emoção às vezes nos
sufoca, mas suplantamos tudo, e nesse momento significante de minha vida,
permitam-me que retroceda ao passado, e relembre aquele humilde gráfico, que
mesmo lutando pelo seu dia-a-dia, encontrou forças para encaminhar seus filhos,
e, às vezes, dividindo seus espaços de vida, dimensionou razões no seu íntimo,
para oferecer de si dons que a natureza lhe doou, através da arte de cantar, e
da liderança nata, que há mais de quarenta anos desfruta no convívio dos
artífices da maior demonstração de cultura popular, que é o nosso mundo
carnavalesco.
Neste dia em que recebo esta tão marcante homenagem, quero estendê-la a
todos que às vezes no anonimato tanto labutam pela oportunidade da manifestação
cultural.
Quando encerro minha passagem pelos Bambas da Orgia, agradeço de todo o
coração as alegrias que me foram proporcionadas, porque foram muito maiores e
absorveram algumas tristezas.
A todos os amigos que me acompanharam, saibam que tudo que fiz e
continuo fazendo, foi na intenção de preservá-los na continuidade de um
relacionamento que significa a maior conquista de toda a minha existência.
Aos Bambas da Orgia entrego um projeto de futuro que pela sua própria
natureza, será sua independência total, e a todos a certeza que o modesto Ariovaldo
Alves Paz continua na trincheira das grandes causas que envolve-o à cultura
popular através de sua maior manifestação que é o carnaval.
Reverendo José Figueres, que está aqui presente e quero manifestar, eu
dediquei 39 longos anos na sua gráfica, o meu reconhecimento, porque o que sou
hoje na vida devo ao senhor.
Muito obrigado a todos e que Deus proporcione a todos momentos de
felicidades como esse que me é proporcionado. Muito obrigado.”
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Ilustres componentes da Mesa,
nossos homenageados, suas esposas, Senhores Vereadores, Senhoras e Senhoras. A
presença de tanta gente neste Plenário, na tarde de hoje, por si só já
demonstra a grandeza deste ato e representatividade das pessoas ora
distinguidas, e nós, em nome da Mesa Diretora da Câmara Municipal de Porto
Alegre, em nome dos seus 33 Vereadores, cumprimentamos os nossos homenageados
pela distinção, e registramos e agradecemos a presença de todos e encerramos os
trabalhos.
(Levanta-se a Sessão às 18h59min.)
* * * * *