ATA DA DÉCIMA QUINTA SESSÃO SOLENE DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 28.05.1991.

 


Aos vinte e oito dias do mês de maio do ano de mil novecentos e noventa e um reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Aelgre, em sua Décima Quinta Sessão Solene da Terceira Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura, destinada à entrega dos Títulos de Cidadãos Eméritos aos Senhores Telmo Kruse, concedido através do Projeto de Resolução nº 47/90 (Processo nº 2184/90); Ladércio Furla, concedido através do Projeto de Resolução nº 54/90 (Processo n° 2383/90); Mário Seixas Aurvalle, concedido através do Projeto de Resolução n° 32/90 (Processo nº 1562/90); Ermógenes de Paula M. Cardoso, concedido através do Projeto de Resolução nº 05/90 (Processo nº 462/90); e Ariovaldo Alves Paz, concedido através do Projeto de Resolução nº 33/90 (Processo n° 1603/90). Às dezessete horas e dez minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos e convidou os Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Vereador Airto Ferronato, 1º Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, presidindo a Sessão; Senhores Telmo Kruse; Ladércio Furla; Mário Seixas Aurvalle; Ermógenes de Paula M. Cardoso e Ariovaldo Alves Paz, Homenageados; Senhoras Dalva Furlan; Juremy Aurvalle; Dinah Borges e Marisa Vargas; Vereadora Letícia Arruda, Secretária “ad hoc”. A seguir, o Senhor Presidente fez pronunciamento alusivo à solenidade e concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. A Vereadora Letícia Arruda, como autora da proposição que concedeu o Título de Cidadão Emérito ao Senhor Telmo Kruse, discorreu sobre o trabalho profissional do Homenageado, destacando os relevantes serviços por ele prestados à comunidade porto-alegrense. O Vereador Cyro Martini, como autor da proposição que concedeu o Título de Cidadão Emérito ao Senhor Ladércio Furla, discorreu sobre a formação acadêmica e familiar de S.Sa., ressaltando o reconhecimento por ele recebido de todos aqueles com quem convive e trabalha. O Vereador Isaac Ainhorn, como autor da proposição que concedeu o Título de Cidadão Emérito ao Senhor Mário Seixas Aurvalle, discorreu sobre a contribuição dada pele Homenageado ao progresso da nossa Cidade, salientando a importância sempre dada por S.Sa. à advocacia trabalhista no Estado. O Vereador Luiz Machado, como autor da proposição que concedeu o Título de Cidadão Emérito ao Senhor Ermógenes de Paula M. Cardoso, destacando encontrarem-se hoje presentes na Casa representantes dos mais diversos segmentos sociais, discorreu sobre a vida do Homenageado, salientando sua atuação como empresário e Líder comunitário. E o Vereador Nelson Castan, como autor da proposição que concedeu o Título de Cidadão Emérito ao Senhor Ariovaldo Alves Paz, atentou para a presença de grande número de amigos do Homenageado, discorrendo sobre o trabalho profissional de S.Sa. e, em especial, sobre sua atuação na difusão do samba e do nosso Carnaval. Após, foi ouvido número musical apresentado pela Banda “Pagode do Dorinho. Em continuidade, o Senhor Presidente convidou os Vereadores Letícia Arruda, Cyro Martini, Isaac Ainhorn, Luiz Machado e Nelson Castan a procederem à entrega dos Títulos Honoríficos de Cidadão Emérito, respectivamente, aos Senhores Telmo Kruse, Ladércio Furla, Mário Seixas Aurvalle, Ermógenes de Paula M. Cardoso e Ariovaldo Alves Paz, e concedeu a palavra aos Homenageados, que agradeceram o Título hoje recebido. Às dezoito horas e cinqüenta e nove minutos, o Senhor Presidente agradeceu a presença de todos e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabaldos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Airto Ferronato e secretariados pela Vereadora Letícia Arruda, Secretária “ad hoc”. Do que eu, Letícia Arruda, Secretária “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e 1º Secretário.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Airto Ferronato): Esta Sessão Solene está destinada a entregar o título de Cidadão Emérito de Porto Alegre ao Srs. Mário Seixas Aurvalle, Ladércio Furlan, Telmo Kruse, Ermógenes de Paula M. Cardoso, Ariovaldo Alves Paz. Informamos que está presente, representando a Associação Riograndense de Imprensa o Jornalista Firmino Sá Brito Cardoso. Ilustres companheiros da Mesa, Srs. Vereadores, senhoras e senhores, na Sessão Solene de hoje a Cidade homenageia cinco personalidades que por sua atuação na comunidade receberão desta Casa o título de Cidadão Emérito de Porto Alegre.

O Sr. Telmo Kruse é médico, nascido em Porto Alegre, foi Diretor-Técnico do Hospital Cristo Redentor e um dos fundadores do Hospital Fêmina, membro e ex-regente do Colégio Internacional de Cirurgiões, sócio-fundador do Rotary Club Porto Alegre Nordeste, é Chefe da clínica cirúrgica da Santa Casa, onde atua gratuitamente na 10ª Enfermaria, há 46 anos. Sua indicação para o título de Cidadão Emérito partiu da ilustre Verª Letícia Arruda.

O Sr. Mário Seixas Aurvalle, advogado, professor de Direito Comercial, Cônsul Honorário do México, em Porto Alegre desde 1984, fundou o Instituto do Direito do Trabalho do Rio Grande do Sul e a Associação dos Docentes do Vale do Rio dos Sinos, advogado e Conselheiro do Consulado Geral da França. A proposição do título de Cidadão Emérito partiu do nobre Ver. Isaac Ainhorn.

O Sr. Ermógenes de Paula Cardoso, natural de Caxias do Sul, é morador da nossa Cidade desde 1941, tendo-se destacado através de lutas reivindicatórias para melhorias do Bairro Cavalhada, onde reside desde 1952. A proposição do título é do nobre Ver. Luiz Machado.

O Sr. Ariovaldo Alves Paz, nascido em Porto Alegre, a partir de 1947 iniciou suas atividades ligadas ao carnaval na Sociedade Beneficente Cultural Bambas da Orgia. Foi seu Diretor de Harmonia e seu Presidente, foi homenageado pela Rádio Farroupilha, Jornal do Comércio e Folhetim do Zaire. A proposição do título é do nobre Ver. Nelson Castan.

O Sr. Ladércio Furlan, nasceu em Apucarana, no Paraná, é formado em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas, Presidente de Associação dos Distribuidores da Skol/Caracu, dos Estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, tendo-se destacado por suas ações comunitárias. É Conselheiro do Lar Santo Antônio dos Excepcionais. Foi Presidente do Lions Clube São João/Navegantes, gestão 84/85, exercendo, atualmente, o cargo de Presidente da Região. O título de Cidadão Emérito é indicação do Ver. Cyro Martini.

Senhores Homenageados, mais uma vez o reconhecimento do Município e nós, em nome da Mesa da Câmara Municipal de Porto Alegre, associamo-nos a esta homenagem.

Com a palavra a Verª Letícia Arruda.

 

A SRA. LETÍCIA ARRUDA: Exmo Sr. Ver. Airto Ferronato, Presidente em exercício da Câmara Municipal de Porto Alegre; Exmo Sr. Dr. Telmo Kruse, meu querido homenageado, Senhores convidados, Senhores homenageados, amigos dos homenageados, parentes diretos e demais autoridades presentes. Falo em nome de todos os 33 Vereadores da Casa, principalmente, em nome da Bancada do PDT e, também, em nome do Ver. Artur Zanella do PFL, Aranha Filho do PFL, Wilson Santos do PL, e Vicente Dutra do PDS.

Meu querido Dr. Telmo Kruse a homenagem é para o senhor. (Lê.) “Foi num acanhado prédio de madeira, na Zona Norte de Porto Alegre, quando ainda não havia os espigões que proliferaram no bairro, à sombra da Igreja Cristo Redentor, que há 46 anos o jovem Telmo Kruse abriu seu consultório médico à comunidade porto-alegrense.

Na figura do ‘médico de família’, afetuoso e dedicado, ingressava na intimidade dos lares muitas vezes compartilhando dos momentos familiares às refeições.

Telmo Kruse compunha essa equipe forrada por médicos de boa-vontade e dedicação exclusiva a seus pacientes, os quais assistiam aos doentes no consultório, além de fazer a ‘peregrinação’ no bairro atendendo, indistintamente, mesmo àqueles que não podiam pagar a consulta. Em agradecimento ofereciam produtos caseiros cultivados pela família.

Quantas e quantas vidas passaram pelas mãos cautelosas e experientes desse renomado médico, que até hoje atende gratuitamente os pacientes que consultam na Santa Casa de Misericórdia. Ali, ele exerce a profissão desde estudante, quando se graduou em Medicina, em 1945, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Não foi por acaso que, no sesquicentenário dessa consagrada Instituição, o médico Telmo Kruse recebeu a medalha ‘Professor Guerra Blessmann’, por sua atuação há mais de trinta anos na Santa Casa de Misericórdia.

De lá para cá, o jovem Telmo só germinou sementes na área da saúde pública, como a do Grupo Hospitalar Conceição, atualmente um dos maiores complexos da América Latina! Esse grupo surgiu da iniciativa do Dr. Telmo Kruse, originando, posteriormente, o Hospital Cristo Redentor.

Membro titular da Academia de Medicina do Rio Grande do Sul, sócio-fundador da Sociedade de Anestesia do Estado e também da Associação Médica Gaúcha, o ex-discípulo do Dr. Fernando Paulino, do Serviço de Cirurgia do Rio de Janeiro, até hoje se dedica à Medicina Comunitária.

Ao longo desses quase 50 anos o Dr. Telmo já atendeu mais de 43 mil pacientes, abrigando em seus braços os ‘doentes’ do bairro, como a velha árvore que dá a sombra amiga e acolhe em seus galhos os andarilhos do tempo.

Desnecessário se faz tecer maiores comentários ao querido e célebre médico que, em junho do ano passado, recebeu o Troféu Solidariedade, por relevantes serviços prestados à comunidade. Por seu espírito de abnegação, amor e doação ao ser humano no decorrer de quase meio século é que propomos o justo reconhecimento desta Casa, ao incansável e dedicado médico de família porto-alegrense.

Doutor Telmo Kruse, receba hoje, do povo de Porto Alegre, através de seus representantes, a homenagem por sua conquista de trabalho na área da saúde. E que sua dedicação sirva de exemplo para os novos profissionais do ramo, os quais, se trilharem semelhante caminho, estarão contribuindo como o senhor contribuiu para o avanço da medicina e da saúde do povo brasileiro! Muito obrigada, Peregrino da Saúde!

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Cyro Martini.

 

O SR. CYRO MARTINI: Sr. Presidente, senhores homenageados, distintas esposas. É para nós honra e alegria poder trazer nesta oportunidade a homenagem desta Casa e da cidade de Porto Alegre a Ladércio Furlan. Ladércio, na qualidade de cidadão exemplar, merece como todos nós que o conhecemos esta homenagem. Ele é natural de Apucarana, no Estado do Paraná, nasceu em 1945, filho de José Furlan e de Olinda Ciriza. É casado com uma gaúcha de Lagoa Vermelha, Dalva Catarina Gaiser Furlan. Seus filhos são: Felipe, José Gaiser, Cristiane Furlan. Formou-se em Administração de Empresas, pela Fundação Getúlio Vargas em São Paulo, em 1970. Habilitara-se anteriormente, em 1965, como Técnico Contábil pela Escola Técnica de Comércio, anexa à Universidade Federal do Paraná. Freqüentou em Turim, na Itália, em 1974, o curso para altos Executivos, promovido pela Organização Internacional do Trabalho.

Então nós vemos, pela formação acadêmica, que nós estamos diante de alguém cuja habilitação é digna de reconhecimento. E nós, de Porto Alegre, à medida que recebemos do Paraná esta expressão que é Ladércio Furlan, obviamente, só por isto já teríamos que demonstrar a nossa gratidão por ele ter vindo aportar nesta terra e aqui fazer o seu ninho, para abrigar a sua família, criar os seus filhos.

Mas não ficamos aí, quando o vemos como homem de iniciativa, de firmeza, de criatividade, de decisão, de empenho, à testa das empresas que dirige, vemos que sua formação acadêmica não ficou apenas nos bancos escolares, mas se transferiu para a prática, dentro do universo do comércio, da indústria e de serviços de um modo geral. É ele aquele a quem incumbem a administração de uma empresa têxtil, que não fica apenas na fabricação, mas que se estende também para a venda, para o comércio. E dentro do comércio ele também estende a sua atividade ao serviço devido.

Mas não é apenas por este lado que devemos reconhecer o mérito desse cidadão, sem um demérito, que Porto Alegre deve reconhecer. Se já por estas qualidades ele merece o nosso reconhecimento, se formos examinar o seu currículo, percorrendo mesmo que ligeiramente, vamos ver que a sua ajuda, que a sua solidariedade, a sua angústia em favor do semelhante está lá presente no Lar Santo Antônio dos Excepcionais. Lá ele busca fazer alguma coisa por aquela gente que necessita da nossa ajuda. Então, eu vejo que nós não estamos tratando de alguém que não tenha coração, porque, normalmente, nas atividades comerciais e industriais, a razão, o sangue frio predominam sobre as pessoas. Mas com o Ladércio isso não acontece. Ele une tranqüilamente a razão dos negócios da indústria com o coração humano que dedica ao próximo. E, hoje, pelo testemunho que nós temos, pelas pessoas com as quais nós conversamos, seus irmãos Leoninos, nós sabemos que a Instituição Leonina de Porto Alegre deve também, e muito, a Furlan. Pelo seu empenho, pela sua dedicação por querer ver as coisas bem feitas, bem realizadas, sua destreza, sua agilidade, a sua iniciativa e isso nós temos, com muita justiça, que reconhecer.

No momento em que nós discutíamos se as empresas de Porto Alegre devem servir ou não o café da manhã para os seus empregados, Ladércio Furlan não dá café da manhã, porque a lei obriga, ele dá como o justo reconhecimento ao esforço do operário, do trabalhador. Ele não dá porque apenas faz um favor, ele dá porque reconhece como justiça, como um dever humano do empresário. Não porque a lei diz ou porque alguém determina, mas, sim, porque assim deve agir o empresário, que quer ver o bem-estar da sua comunidade, do seu Município, do seu Estado, da sua Nação. Para ele, o café da manhã, como ele dá, dar o almoço, o café da tarde, isso não é porque a lei obriga, mas, sim, porque ele reconhece que isso deve ser feito com relação ao empregado. Mas também com o coração. Nós que tivemos a oportunidade, e temos, de freqüentar as suas empresas, nós vemos que aqueles que trabalham nas empresas que ele dirige não são empregados dele, são amigos, são irmãos, são integrantes da sua família.

A sua família não é apenas constituída da sua esposa e filhos, mas daqueles que trabalham nas suas empresas comerciais, no seu estabelecimento industrial. Isto para nós, que propusemos esta homenagem com uma tranqüilidade e satisfação imensa, porque estamos propondo uma homenagem da Cidade a alguém que para cá veio e fez por merecê-la. Num momento em que o desemprego e a recessão grassam pelo País todo, as suas empresas são testemunhas disso, ele contrata mais gente. Pretende ele, ao cabo do ano, ter aumentado o número dos seus funcionários, seus amigos, para mais de 50%.

Então vejam que estamos oferecendo uma homenagem justa de Porto Alegre, e assim gostaríamos de fazer com todos aqueles que para cá vieram, e o fazemos na pessoa de Ladércio Furlan, estendendo a todos aqueles que para cá vieram como ele, trazerem a sua capacidade de trabalho, o seu desejo de ver Porto Alegre cada vez mais pungente e mais forte. A homenagem, sem dúvida, deve ser por nós todos juntos a Ladércio Furlan, porque ele merece. Então o meu aplauso a ele e sua família, o meu aplauso e as minhas homenagens também a ele e seus amigos, de um modo geral e a todos os porto-alegrenses, por podermos contar hoje, entre nós, com Ladércio Furlan. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Nós concedemos a palavra ao Ver. Isaac Ainhorn.

 

O SR. ISAAC AINHORN: Exmo Sr. Ver. Airto Ferronato, 1° Vice-Presidente desta Casa, no exercício da Presidência dos trabalhos, meu querido homenageado Dr. Mário Seixas Aurvalle, Exma Srª Juremy Aurvalle. Nós estamos aqui na Câmara de Vereadores de Porto Alegre participando, presenciando uma Sessão Solene em que homenageamos um grupo de pessoas que a representação política da cidade de Porto Alegre, que a expressão da vida social da nossa Cidade entendeu como pessoas que prestaram relevantes serviços à cidade de Porto Alegre, que, por esta razão, recebem, da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, esta homenagem de outorga do título de Cidadão Emérito da nossa Cidade. Vejam os Senhores, as Senhoras, a Resolução que regula este título, definido na Resolução nº 731 da Câmara de Vereadores, no seu art. 1°: “fica instituído o título honorífico de Cidadão Emérito que será conferido a todo cidadão que tenha contribuído com seu trabalho para o desenvolvimento social, político, cultural e artístico da sociedade porto-alegrense”. Esta é a identidade que une as pessoas que nesta tarde nós homenageamos, no caso específico da minha indicação em um Projeto de Resolução, nós prestamos esta homenagem a um advogado, fundamentalmente um profissional do Direito, fundamentalmente um profissional da advocacia, que durante quase 46 anos vem prestando aqui, na Cidade de Porto Alegre, com expressão estadual e nacional, uma decisiva contribuição para o desenvolvimento das atividades de uma cidade, de um complexo que é uma cidade, que envolve um conjunto organizacional, desde a estrutura funcional e organizativa de uma cidade, com seus Prefeitos, seus Vereadores, naquilo que ela tem, e que pulsa de maior vitalidade nas suas atividades, com seus trabalhadores, nos seus homens simples, com seus advogados, médicos, enfermeiros, jornalistas, radialistas e todas aquelas pessoas que fazem a Cidade pulsar, porque é na cidade que as pessoas vivem. O Estado, a União são abstrações, enquanto a cidade é a realidade concreta onde os indivíduos vivem, onde os cidadãos desempenham as suas atividades.

E o nosso homenageado, que é um porto-alegrense da gema, como se diz, recebe neste momento aquilo que nós, lidadores da atividade jurídica diríamos: um instrumento de rerratificação da sua condição de cidadão porto-alegrense, recebendo da sua comunidade, da Casa Legislativa da Cidade de Porto Alegre, o reconhecimento através da outorga do título de Cidadão Emérito. E na minha visão, fundamentalmente. o vemos como o advogado, o homem do Fórum, o lidador do Direito, o homem que trabalha com as leis, e trabalha num dos fóruns mais complexos, atuou e deu ênfase muito grande na sua atividade, à advocacia trabalhista. Ao lado da advocacia do Direito de Família, na riqueza, nas dificuldades, e nos momentos alegres que esta atividade, no exercício da advocacia, enseja nestes dois ramos do Direito do Trabalho e do de Família. Não fosse por isso, o nosso homenageado teria outras razões suficientes para receber da sua Cidade aquilo que refiro como instrumento de rerratificação, que hoje a Câmara de Vereadores outorga ao entregar o título de Cidadão Emérito da nossa Cidade. Este reconhecimento, meus senhores e minhas senhoras, do nosso homenageado, o advogado Mário Seixas Aurvalle tem uma dimensão maior, porque este reconhecimento já foi feito por outras insígnias, por outras condecorações que ele recebeu, tanto em nosso Estado como em nosso País. Exemplo disso a sua condição, que nos orgulha muito, de Cônsul Honorário da Cidade do México em nossa Cidade. Isto por si só, este intercâmbio cultural que a figura do nosso homenageado faz já nos daria motivos suficientes para outorgar este título, que é um reconhecimento do seu trabalho e da sua atividade.

Vejamos senão outras: dizia eu, exatamente, que o nosso homenageado já tinha este reconhecimento nacional quando condecorado pelo egrégio pleno do Tribunal Superior do Trabalho com a Ordem do Mérito Judiciário do Trabalho no Grau de Comendador. Condecorado pelo Governo da França, mediante decreto assinado pelo Presidente da República Francesa, Valéry Giscard d’Estaing, com L’ordre national du Mérite, no Grau de Cavaleiro. Agraciado pela Ordem International des Chevaliers de I’Etoile de la Paix, no Grau de Comendador. Agraciado pela Ordem dos Advogados do Brasil, seccional do Rio Grande do Sul, com a medalha Osvaldo Vergara, no Grau de Comendador.

Além dessas homenagens nacionais e internacionais, lhe presta também a sua Cidade, Porto Alegre, que se junta a estas homenagens. E com humildade, a cidade de Porto Alegre, na sua dimensão humana, nesta Cidade querida, em que buscamos fundamentalmente melhorar a sua qualidade de vida, apesar das suas dificuldades e das suas contradições, esta Cidade, onde eu tenho a certeza que nos orgulhamos de viver, está plenamente satisfeita. Alguns que nasceram aqui e outros que aqui estão presentes e alguns homenageados que fizeram a opção pela cidade de   Porto Alegre também estão satisfeitos. Esta é uma Sessão realmente bonita de ser vista.

Quando realizamos uma Sessão de entrega de título de Cidadão Emérito, e participamos dela, nós o fazemos porque acreditamos naquilo que estamos fazendo. Achamos que esses atos de reconhecimento também são importantes. É o que nos irmana e nos integra aqui hoje, neste Plenário lotado, nestas instalações simples, mas que revelam a força e a vitalidade da nossa Cidade, que se expressa também nos seus poderes políticos, entre os quais a Câmara de Vereadores é um deles.

Meu querido homenageado, Professor Advogado Mário Seixas Aurvalle, o que repito, encerrando essas minhas observações e reflexões, é que a Cidade apenas celebra um instrumento de rerratificação da sua cidadania que o senhor já tem de Porto Alegre, lhe outorgando juntamente com todos os reconhecimentos que eu tive a oportunidade de referir, dentre muitos outros, a condição de Cidadão Emérito de Porto Alegre, na certeza de que este título também representa uma nova caminhada, e pelo que eu conheço do senhor, servirá de estímulo para continuar desenvolvendo com seriedade, responsabilidade e profundo amor o trabalho que o senhor vem fazendo em benefício do desenvolvimento social, cultural e político da nossa Cidade, levando esse conhecimento da nossa Cidade para outras fronteiras, para outros Estados e para outros países. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Luiz Machado.

 

O SR. LUIZ MACHADO: Exmo Sr. Presidente deste Legislativo, ora presidindo os trabalhos; Senhores homenageados, familiares, amigos, autoridades, Vereadores, é com satisfação que hoje assomo a esta tribuna para prestar esta homenagem a Ermógenes Cardoso.

Antes, apresento os senhores visitantes e homenageados: Sr. Telmo Kruse, Srª Dalva Furlan, Srª Juremy Aurvalle, Srª Dinah Borges, Sr. Ermógenes de Paula M. Cardoso, Srª Marisa Vargas, Sr. Ariovaldo Alves Paz.

Caba-nos, homens públicos, reconhecer aqueles que no dia-a-dia, na luta, destacaram-se na sua vida, merecendo, hoje, todos os homenageados, o título de Cidadão Emérito de Porto Alegre. Sou obrigado a fazer um relato, porque a minha vida pública iniciou quando cheguei nesta Casa em 1988, oriundo dos trabalhos comunitários, representando uma parcela da sociedade de Porto Alegre. Quero afirmar que esta Casa tem todos os segmentos da sociedade representados. É uma Casa que tem profissionais liberais e líderes comunitários; hoje, a minha homenagem a Ermógenes Cardoso é de um líder comunitário para outro líder comunitário.

Ermógenes de Paula Mattos Cardoso, natural de Caxias do Sul, filho de João Nunes Cardoso e dona Joaquina Mattos Cardoso. Em 1953 contraiu núpcias com dona Dinah Borges, de cujo casamento nasceu a única filha, Iara, casada com o Sr. Luiz Sérgio Quirolo Pita, dando-lhes dois netos: Saimon e Geison

Muito cedo iniciou seu trabalho, tendo aos 18 anos de idade, fundado a Indústria Calçados Cardoso, onde na década de 50 vendia tamancos (um costume da época), parte da moda. Até chegar em modelos mais avançados. Dedicou-se a sua empresa até maio de 1989, quando então se aposentou.

Desde 1960, Ermógenes Cardoso se destacou como líder comunitário. Foi Coordenador do Plano Comunitário para colocação de iluminação pública na Rua Osvaldo Aranha, Zona “a” de Cidreira, onde foi mentor, fundador e patrono da Associação dos Amigos da Zona “A” de Cidreira.

Em Porto Alegre, no Bairro Cavalhada, onde reside desde 1952, foi fundador do Lions Santa Flora.

Exerceu a Vice-Presidência do Conselho Comunitário     do Bairro Cavalhada.

Foi Coordenador do Plano Comunitário para calçamento da Rua Padre João Batista Reus. Sempre colaborou com a comunidade, tendo participado de movimentos comunitários nas Paróquias São Vicente Mártir e Santa Luzia.

Recebeu da comunidade diversas homenagens por relevantes serviços comunitários prestados.

Além de sócio benemérito do Riograndense Tênis Clube, é seu Conselheiro nato, tendo exercido diversos cargos de direção desde a sua fundação em 1953; sendo o seu Presidente pela terceira vez, reeleito por aclamação em assembléia geral. Hoje um clube de pujança na Zona Sul da Cidade.

O crescimento e o desenvolvimento desta comunidade têm a mão e a experiência de Ermógenes Cardoso.

Fiz este relato de sua vida, Cardoso, porque o conheço e repartimos o mesmo pão, fomos companheiros de luta comunitária na zona e vizinhos da sua empresa de calçados Cardoso, empresa que era pujante até então no Bairro Camaquã. Este trabalho seu dignifica o homem, dignifica o título de Cidadão Emérito de Porto Alegre, pelos seus serviços prestados a nossa Cidade. O povo de Porto Alegre tem o dever de reconhecer o filho de Caxias que hoje passa a ser também filho de Porto Alegre. Com essa dedicação, com esse carinho, eu quero dizer a Ermógenes que o povo de Porto Alegre, o povo da Zona Sul, os teus amigos, os companheiro de luta, seus familiares, seus amigos do Clube Riograndense reconhecem o teu trabalho à testa daquele grande clube. Um cidadão se mede pelo seu trabalho, pelo seu ardor, pela sua luta, não somente pelo cargo que ocupa, mas pelo trabalho do dia-a-dia. Eu, hoje, ao fazer esta homenagem, faço uma homenagem a quem conheço há mais de 30 anos. Em 1960, pude ver a obra de Ermógenes na sua empresa com seus empregados e dizer que saiu de um cidadão comum e trabalhador comum a um médio empresário no setor calçadista da nossa Cidade, do nosso Estado para honrar, para dignificar a nossa Cidade.

Hoje, aposentado pelos altos serviços prestados a nossa Cidade. Aposentou-se na teoria e não na prática, porque nós, cidadãos de bem, nunca nos aposentados. Nunca. E temos que dizer isto aqui aos nossos avós, aos nossos irmãos, não vamos nunca nos aposentar para a vida, porque tu jamais se aposentaste no nosso sentimento, Ermógenes. Continuas produzindo e tens muito para dar a nossa Cidade, e para os nossos bairros da Zona Sul. Espero que a tua grandeza sirva de exemplo aos demais. Aposentados são aqueles que deixam de viver. Aposentado, para mim, é aquele que não pode produzir, não pode dar idéias, porque idéias não são metais que se fundem. Idéias se discutem e se conquistam e se debatem.

Meu muito obrigado a todos os presentes e aos homenageados com um carinho todo especial deste Vereador, oriundo das camadas menos favorecidas da sociedade. Parabéns e felicidades a todos os senhores. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra ao Ver. Nelson Castan.

 

O SR. NELSON CASTAN: Ver. Airto Ferronato, que preside esta Sessão Solene. Meu querido homenageado Ariovaldo Alves Paz. Srs. Vereadores aqui presentes, senhoras, meu amigo Macalé, a quem faço uma homenagem especial, Senhores. (Lê.)

“A vida é um somatório de experiências. Aprendi, no convívio com o mundo do carnaval, que ela pode ser comparada a um desfile na avenida. A infância são os ensaios, onde a quadra está cheia de sonhos e a expectativa cresce a cada dia. A adolescência é a concentração, a incerteza entre a vitória e a derrota, o nervosismo e a tensão antes da entrada. A juventude é o grito de guerra, a força e a empolgação que explodem na avenida. A maturidade, meu caro Ariovaldo, esta vem depois do desfile. A maturidade está em saber que ele, na verdade, nunca termina. A cada segundo, a cada dia, a cada ano, estamos sempre na avenida.

É exatamente este o sentido desta homenagem. No samba-enredo da vida, meu amigo Ariovaldo, a sua nota é 10. Não apenas pelos 19 anos em que fostes puxador de samba, ou quando fostes ritmista ou cantor profissional, ou pelas homenagens e prêmios que tens recebido durante estes anos todos. Isto tudo, sem dúvida, é muito importante, mas ao nosso ver, não é o fundamental. O que mais toca, o que dá a harmonia perfeita e o ritmo desta homenagem, são os seus amigos que hoje vieram aqui lhe abraçar. Eles são os frutos mais valiosos, o troféu mais desejado, o prêmio de campeão que nem todas as escolas podem ganhar.

Vejo aqui companheiros e companheiras dos Bambas da Orgia e de várias outras escolas. Vejo jornalistas do carnaval, vejo sua família, vejo o povo do samba, vejo outros tantos, seus amigos. No seu samba, Ariovaldo, ninguém atravessa.

Dos tempos do carnaval da Baronesa, comandado pelo Valinho, com o seu Macalé de Rei Momo e a dona Beatriz Seltenreich como rainha, muita coisa mudou na nossa Cidade e no Brasil. O nosso diretor de bateria, lá em Brasília, parece que esqueceu que quem faz o carnaval é o povo. Mas nada disso adianta. Se tiver que tirar um carro do desfile ou diminuir as alegorias, não tem problema. A gente vai para a avenida de qualquer jeito, porque nos braços da nossa porta-bandeira vai a esperança e a emoção.

É esta mesma emoção que me faz lembrar de algumas passagens do seu Ariovaldo Paz. Uma delas aconteceu na hora da aposentadoria da gráfica onde trabalhou por 35 anos. Quando o seu Ariovaldo foi comunicar ao seu chefe que era hora de “botar a viola no saco”, os dois choraram juntos. De parte dos funcionários, seus colegas, ele foi homenageado pelo mais novo deles, o qual havia sido treinado pelo próprio Ariovaldo. Aos 16 anos, o seu Ariovaldo cantava com o jazz Tupinambá para o Consulado América (sic), no Clube do Comércio. Pois sabem o que ele fez com os seus primeiros salários? Comprou uma máquina de costura para a mãe e começou a dividir todas as despesas de casa. Mais do que um homem do samba, mais do que um amigo e pai, estamos homenageando uma trajetória de vida.

Além disso, Ariovaldo Paz foi por várias gestões Presidente dos Bambas da Orgia, é membro do Conselho de Presidentes das Sociedades Carnavalescas e foi até a Argentina com sua escola para divulgar a cultura gaúcha e porto-alegrense.

Poderia continuar aqui descrevendo as qualidades pessoais e profissionais do seu Ariovaldo, ou tentando exprimir em palavras o carinho e a gratidão dos companheiros e companheiras dos Bambas e de todos os que participam e gostam do carnaval. Prefiro, entretanto, deixar que o samba enriqueça complemente esta homenagem. Que a música da Banda Pagode do Dorinho fale por todos nós. Muito obrigado.”

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Nós anunciamos a Banda Pagode do Dorinho, que veio prestar a sua homenagem ao Sr. Ariovaldo Alves Paz.

Informamos, também, aos Senhores, que além dos Vereadores que usaram a palavra, estão presentes nesta Sessão os Srs. Vereadores: Wilton Araújo, Martim Aranha Filho e Ervino Besson.

Passamos à entrega dos títulos.

 

(É feita a entrega dos títulos aos homenageados.) (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra ao nosso primeiro homenageado, Dr. Telmo Kruse.

 

O SR. TELMO KRUSE: Em primeiro lugar, peço desculpas, pois pedi ao Sr. Presidente para falar aqui do meu lugar, pois 47 anos nas costas, de profissão, já é alguma coisa que não dá para ficar de pé mais tempo.

Exmo Sr. Presidente da Mesa. Ver. Airto Ferronato; colegas homenageados; meus senhores; minhas senhoras; meus amigos, principalmente meus filhos. (Lê.)

“É uma grande honra, a    única e maior que poderia esperar, recebendo da comunidade porto-alegrense o título de Cidadão Emérito de Porto Alegre, representada aqui pela sua colenda Câmara Municipal, tão bem dirigida pelo seu Presidente Antonio Hohlfeldt e pelo seu Vice-Presidente Airto Ferronato.

Expresso aqui meus mais profundos agradecimentos à Verª Maria Letícia Arruda, que apresentou meu nome para receber esta homenagem.

Todas as histórias que são os cofres da memória têm um início. A minha começa com meu nascimento nas mãos de uma parteira alemã, famosa na época, que no fim de sua vida, teve como médico este que vos fala. Meu pai de origem alemã, descendente do primeiro Kruse que veio para o Brasil em 1828, para São Leopoldo. Casou-se um pouco antes da I Grande Guerra com uma alemã vinda para o Brasil no início do século XX.

Eu teria que ser naturalmente alfabetizado em alemão no Hilfsverein Schüle, hoje o famoso Colégio Farroupilha. Como seu curso só valia na Alemanha para quem quisesse seguir a carreira universitária, minha mãe em boa hora decidiu que eu completaria o ginásio no Colégio Rosário.

Terminei assim o curso Ginasial nesse estabelecimento, naquela época dirigido pelo inolvidável Irmão Afonso, iniciador da Pontifícia Universidade Católica, que no ano de nossa formatura, em 1936, teve a coragem de aumentar, provocando grandes protestos, as mensalidades em 40%. Mas não era inflação, ele estava começando a comprar toda a quadra da Av. Independência.

Até hoje sigo o lema aprendido com o Professor Irmão Weibert, francês da Alsácia Lorena que tem uma herma em sua honra, em frente ao Colégio Rosário. Ele, um dia, nos perguntou: ‘Vocês sabem o que é PBS?’ E um dos crentes em Química, que naquele tempo era Chimica, disse: ‘Sulfato de Chumbo’. Isto era a famosa galena precursora do nosso rádio atual, com a qual ouvíamos a Rádio Gaúcha, instalada em frente à Hidráulica Moinhos de Vento, no ponto mais alto de nossa Cidade, naquela época. Até hoje, ali existe ainda um mirante.

Com a Reforma do Ensino pelo Estado Novo, implantado por Getúlio Vargas, tivemos que fazer mais dois anos de curso pré-médico, no Colégio Júlio de Castilhos, naquela época junto à Escola de Engenharia e Faculdade de Direito, que tinha como porteiro, o cidadão Lupicínio Rodrigues, que ficaria famoso como um dos mais célebres compositores gaúchos.

Conseguimos uma das 60 vagas oferecidas para transpor os umbrais da Faculdade de Medicina de Porto Alegre, praticamente a única existente, pois a outra, a Escola Médica Cirúrgica estava agonizando e era de orientação positivista, de acordo com o tipo de Governo de Borges de Medeiros e só valia para a prática da Medicina no Rio Grande do Sul.

Logo que entrei para a Faculdade comecei a freqüentar uma enfermaria da Santa Casa, a 9ª Enfermaria, dirigida pelo Professor Aurélio Py, onde dei os primeiros passos na forma de examinar um doente e, poder tratá-lo. Fui orientado por um clínico muito competente, Luiz Fayet, profundo conhecedor de Patologia, aproveitando suas discussões em torno dos casos com os colegas Edgar Eifler e Tenack Wilson de Souza. Neste serviço fiquei por quatro anos.

Mas minha aspiração era a cirurgia e a conquista de uma das seis vagas oferecidas pela Assistência Pública, único serviço de Emergência existente naquela época e mantido pela Prefeitura. Era um posto de atendimento localizado a Rua Cel. Vicente esquina com a Rua Comendador Manuel Pereira, atendido por seis quintanistas e seis doutorandos da Faculdade de Medicina, comandados por médicos plantonistas, e com um serviço de ambulância equipado com medicamentos de urgência, um enfermeiro, um estudante e o motorista.

Meu desempenho na Assistência Pública, depois passando para o Hospital de Pronto Socorro inaugurado em 1944, foi início de minha carreira como médico de família. Na década de 1940 aprendia-se cirurgia freqüentando uma Enfermaria da Santa Casa. A mais destacada daquela época já era a 10ª, então dirigida pelo Professor Emérito Alfeu Bicca de Medeiros e, portanto, a mais procurada pelos acadêmicos. Era muito difícil obter uma vaga naquele serviço.

Eu não era de Alegrete, nem tinha parentes na fronteira, mas        tive a sorte de ser convidado por um dos assistentes de Alfeu Bicca de Medeiros, o Dr. Fernando Pombo Dornelles, que fazia parte do quadro de cirurgiões do Hospital de Pronto Socorro, e atualmente, ainda exerce o cargo de Diretor da 10ª Enfermaria.

Houve uma vaga na Enfermaria com a convocação de um dos internos para o Serviço Militar, pois estávamos em plena Guerra. Foi a grande chance de minha vida. Comecei a auxiliar diversos cirurgiões assistentes da 10ª; no Pronto Socorro e na Clínica Privada. Era a maneira de progredir na arte da cirurgia. ‘Trabalhando sem esmorecer para não desmerecer’, outro lema que me valeu muito, foi transmitido pelo nosso paraninfo na formatura, em 1945, Professor Ivo Correa Meyer, destacado oftalmologista.

Auxiliava exímios cirurgiões como Fernando Becker e Luis Carlos Ely, que me entregaram, ainda como doutorando, um aparelho de anestesia moderna, que possibilitou o grande salto da cirurgia que foi a abertura de tórax.

Tudo isso me valeu para ficar em Porto Alegre e começar a clinicar em minha Cidade natal. Observando o tipo de chamado na Assistência Pública, eu e meu companheiro de plantão, Raul Seibel, hoje Diretor do Hospital Santo Antônio, verificamos que o lugar ideal para abrir um consultório seria a Zona Norte, habitada por operários que moravam perto das indústrias onde trabalhavam.

As indústrias que ali se instalaram, fugindo da Rua Voluntários da Pátria, em virtude da enchente de 1941, a maior já acontecida no Estado. O operário havia adquirido um terreno em prestações e levantado sua moradia, querendo assistência médica para sua família. Na ótica de hoje, isto parece impossível que uma clínica progredisse em zona de operários. Mas a realidade daquela época era outra, Seibel, atendendo às crianças e eu, aos adultos, cobrávamos cinco mil réis a consulta. Mas o salário mínimo era de cento e vinte mil réis, imaginem, com um salário ele podia consultar 24 vezes em um mês. Hoje, nem pensar!

O Sr. Alfeu Bicca de Medeiros me perguntou: ‘Menino, onde você irá trabalhar? Já está operando direitinho. Poderá ficar rico em qualquer lugar do nosso interior’.

Eu respondi: ‘Raul Seibel e eu, já decidimos ficar na Capital e abrir um consultório no Passo da Mangueira’. Ele olhou para mim e disse: ‘Com esta cara que você tem de menino de dezesseis anos quem é que irá te consultar ou te chamar?’ Fica aqui na Enfermaria que irás ter muito tempo para trabalhar comigo, e realmente estou até hoje trabalhando na mesma, fazendo 47 anos de atividade.

Naquele instante, apesar de ser trabalho absolutamente gratuito executado por todos, desde o Diretor, Chefes de Clínica e Assistentes, havia chegado a grande oportunidade para trabalhar em uma Enfermaria do gabarito da 10ª.

Para parecer mais velho cultivei logo um bigode, muitos talvez ainda se recordem desse meu visual. Um dia. quando resolvi tirar o bigode, com meu novo aspecto, assustei Irmã Euzébia, uma freira de invulgar personalidade, que completou seu jubileu de ouro na Enfermaria.

Ao me estabelecer no bairro, fiz o primeiro contato com o Vigário da Paróquia, Padre João Mascarello, apresentado pelo comerciante mais antigo da zona, Zeferino Dias Filho. Padre João logo nos conseguiu uma sala para trabalharmos à sombra da Igreja, ainda de madeira construída em terreno doado pela Família Dernardi, que procedeu ao primeiro loteamento, construindo a Vila Floresta.

Além deste consultório, servimos como médico no Hospital da Aeronáutica em Canoas, e por uma hora diariamente, atendemos na Farmácia São Geraldo, de propriedade do saudoso farmacêutico Romeu Rosa, compadre do então Cônego Vicente Scherer da Paróquia São Geraldo. Com uma Clínica muito movimentada, trabalhávamos praticamente dia e noite, atendendo desde partos no Hospital Moinhos de Vento e São Francisco, além de inúmeras cirurgias de todas as matizes.

Mas nunca abandonamos a Enfermaria, dirigida desde 1948 pelo Dr. Fernando P. Dorneles, chegando em um ano bissexto a comparecer nos 366 dias do ano, pois também a freqüentávamos aos domingos e feriados.

Na década de 1950, o meu fichário já contava com mais de 10.00 clientes particulares. Isso chamou a atenção de um Vereador, Líder do Partido Social Progressista, Adalmiro Moura, que me convidou, propondo a minha eleição para Vereador, baseado nessa clientela. Declinei do convite, dizendo que não tinha veleidades políticas.

Mas a década de 50 deu outra guinada na minha vida, apareceu no meu consultório, um cidadão, propondo a construção de um Hospital na Zona Norte. Tratava-se de Jahyr Boeira de Almeida, que também na sua visão escolheu este bairro, hoje una verdadeira cidade. Interessante é reviver aqui o diálogo com este homem que eu não conhecia e que se tornaria um verdadeiro gigante, construindo com sua audácia e tirocínio, o maior conjunto hospitalar da América Latina. Falou assim: ‘Vim procurá-lo após uma pesquisa, pois olhando a Cidade do alto do Morro Santa Tereza, podíamos ver, que em virtude do Rio Guaíba, o desenvolvimento da Cidade teria que ser para a Zona Norte’ e então me convidou para construir um hospital de oitenta leitos. Eu estava em plena faina de consultório, e para me ver livre, respondi: ‘Pena que o senhor chegou tarde, pois sou sócio fundador, com mais nove colegas do Hospital Fêmina. Mas ele logo argumentou que o Fêmina era um empreendimento de corretores e levaria muito tempo para ficar concluído e realmente quem terminou o Fêmina foi Jahyr Boeira de Almeida, quando comprou seu controle acionário. Logo expôs seu plano, precisava de 10.000 contos para executar a obra, começando com dez sócios, dispondo cada um de 50 contos para formação da sociedade piloto.

Dei então para ele o nome de pessoas do bairro, entre médicos, industriais e comerciantes, imaginando que seria muito difícil a empreitada. Após duas horas, para meu espanto, ele estava de volta com as seguintes palavras: ‘Está fundado o Hospital. Teremos hoje à noite uma reunião na Churrascaria Santa Tereza’. Integrei com Zeferino Dias Filho e Frederico Dihl, então Prefeito de Viamão, o Conselho Fiscal; passando desde sua inauguração em 1958 a exercer a função de Diretor Técnico.

Procurei logo saber quem era Jahyr Boeira de Almeida, seu currículo era bom. Prático de farmácia, era dono de um Hospital em Estação, então distrito de Getúlio Vargas, e proprietário da Farmácia Probo, na Av. Presidente Roosevelt, primeira farmácia em Porto Alegre a atender durante 24 horas. Quinze dias após, a Phillips do Brasil me telefonava perguntando se existiam camas e toda a aparelhagem para instalar um hospital de oitenta leitos por 2.500 contos a serem pagos em 10 meses.

Esta foi a semente fecunda do Grupo Hospitalar Conceição que daria muitos frutos, atingindo sob sua direção 2.000 leitos.

O Passo da Mangueira, hoje Bairro Cristo Redentor, era e é um solo privilegiado, onde tudo prospera, aí está o espetacular Jardim Lindóia, novo conceito em construção de Bairro, o Lindóia Tênis Clube, o Rotary Club Passo da Areia, a Escola Particular São Judas Tadeu, fundada em 1946, por Vera Romak Alves, transformando-se em 1957 em ginásio e em 1970 forma a Faculdade São Judas Tadeu e o Colégio Santa Dorotéia, hoje com mais de 2.000 alunos.

Jahyr Boeira de Almeida também foi pioneiro em Transporte Aéreo de pacientes em aviões e helicópteros no Brasil, construindo os primeiros heliportos no Hospital Cristo Redentor e Conceição.

Hoje todo este patrimônio encontra-se sucateado nas mãos do Governo em insólita intervenção da Ditadura, assim conseguindo terminar com carreira de um empresário com letra maiúscula.

Trabalhamos junto com Jahyr por mais de dezoito anos, como Diretor Técnico da organização, mas nunca abandonamos o consultório no Centro, na Rua dos Andradas, por visão de Berenice, minha esposa desde 1944, que me profetizou: ‘Um dia poderá acontecer algum problema e tu não terás para onde ir’.

Realmente, com a intervenção do Governo, ficamos apenas mais um ano trabalhando no Hospital Cristo Redentor, abandonando o mesmo, pois sua debalde nos entristecia e tirava o nosso ânimo. Hoje felizmente, estamos com o consultório apenas no Centro, não sendo mais como me denominavam no principio de minha profissão, médico de fim de linha.

Aqui estamos agora recebendo um título honorífico que nunca imaginávamos merecer, muito feliz, mas com o coração confrangido com a situação estabelecida! A parca inexorável, que tantas vezes procuramos afastar dos nossos doentes, roubou-nos há dez dias nossa companheira de quase 50 anos de convívio: Berenice. Aos 28 anos já era responsável por quatro filhos, tendo ao seu lado um homem que não tinha horário, que não tinha tempo para o lazer, procurando sempre atender seus pacientes dia e noite, da melhor maneira possível. Felizmente nesta hora tenho o apoio dos filhos todos casados por mais de 15 anos, o que hoje é um fato inusitado dentro da nossa estrutura social.

O filho mais velho, Everton, médico que não quis seguir a minha linha no exercício da medicina, dizendo que tinha aprendido muito comigo, pois menino de 8 anos não esquece quantas vezes estávamos prontos para assistir futebol e eu dizia ‘vamos de uma vez, antes que toque o telefone e o pai tenha mais um chamado’ e lá se ia nosso programa. Tornou-se radiologista, esta difícil especialidade da Medicina, é casado com Maria Henriqueta Luce Kruse, professora da Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS e líder em sua profissão, tendo dois filhos, Felipe e Augusto.

Ivan, formando com Janice Almeida Kruse uma dupla de administradores de empresas.

Jane, também enfermeira e professora da Escola de Auxiliares de Enfermagem do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – SENAC, líder de Bandeirantes nas horas de lazer, casada com Rogério de Castro Oliveira, arquiteto e professor na UFRGS, com duas filhas, a neta mais velha Helena, Fernanda; e finalmente Janice, que nasceu com dez minutos de atraso em parto gemelar, terminando o Curso de Direito na Pontifícia Universidade Católica – PUC, casada com Danilo Maia, advogado com bom trabalho no seu metier, brindando-nos com dois netos, Juliana e Tiago. Todos unidos me dando força nesse momento crucial.

À minha família tão bem constituída, agradeço profundamente a paciência em aturar um pai que eles viram toda a vida de terno e gravata, sempre pronto a atender a Clínica.

Não posso aqui deixar de nomear aos que me ajudaram a atender essa Clínica, que hoje conta com mais de 43.000 mil clientes particulares e cadastrados no consultório do Centro, onde contei, nos primórdios, com Olga Correia, uma auxiliar que roubamos do Hospital Petrópolis, que até hoje trabalha com o Dr. Walter Ghezzi, meu companheiro de consultório por muitos anos; Maria Ilse Bicca Gamerro, que trabalhou comigo por mais de trinta anos até aposentar-se, sua irmã Estela Bicca Borne, já aposentada, continua trabalhando conosco há trinta anos na Clínica, hoje com sangue novo de Mari Angela Delanez.

Aos médicos que trabalharam e ainda trabalham comigo: Telmo Marcontonio Cunha, que por mais de doze anos, desde o tempo de estudante me acompanhou, agüentando o ritmo do intenso trabalho, João Jorge Deud José, 18 anos, Flávio Ferreira, Carlos Bocaneira Koch, junto conosco desde a instalação do Serviço de Parto Psico-Profilático. Raul Moreira Filho, nosso prestimoso companheiro nos diagnósticos ginecológicos. Tadeu Stringari, trabalhando hoje na PUC, e atualmente tenho como companheiro Carlos A. Fuhrmeister, nosso instrutor de cirurgia na 10ª Enfermaria full time, acompanhado de sua esposa, Alida Fuhrmeister, anestesista competente. José Cláudio Lupi Kruse, meu sobrinho, que junto comigo esteve por 12 anos no consultório, agora já independente, atendendo os casos cardiológicos e equilibrando com sua juventude a minha faixa etária. Franklin Veríssimo pranteado companheiro de mais de quarenta anos, acompanhando com seu tirocínio nossos casos Clínicos, dando seu apoio nos pós-operatórios.

A todos, meus agradecimentos, principalmente, à Câmara de Vereadores, que por indicação da brilhante Vereadora e única representante do sexo frágil na Câmara, Maria Letícia de Arruda Timm, que carrega geneticamente, o vírus da política, herdado de seu pai, Wilson Arruda, pioneiro na Vila Ipiranga com sua Farmácia e destacado político comunitário.

Aos meus 43 mil clientes representados aqui por muitos presentes que se tornaram verdadeiramente amigos. Aos meus companheiros do Rotary Club Porto Alegre Nordeste, a todos o meu mais profundo agradecimento, congratulando-me finalmente com os demais homenageados nesta oportunidade.” Muito obrigado.

 

(Revisto pelo orador.)

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Sr. Ladércio Furlan.

 

O SR. LADÉRCIO FURLAN: Exmo Ver. Airto Ferronato, Presidente em exercício desta Casa; Exmo Ver. Cyro Martini e demais Vereadores; autoridades presentes, amigos, meus amigos. Sinto-me honrado pelo título que esta Casa está-me concedendo, juntamente com cidadãos tão ilustres, aos quais eu rendo também minha homenagem. (Lê.)

“Porto Alegre

Há vinte anos / espraiada no Guaíba / e ancorada nos mansos morros / encontrei Porto Alegre

A opção de viver aqui / surgiu da maneira que / surgem as grandes paixões:

De repente

Vinte anos / encontrei a Dalva

Casei-me / vieram os filhos

Feliz com a terra

Trouxe também um irmão, cunhada e sobrinho

Porto Alegre

Do Brique da Redenção / do Flacão, Kleiton e Kledir / do ‘Até a pé nós iremos’ / do Sampaulo / do ‘Papai é o maior’ / do Stockinger

Da Probebidas Skol, sempre Skol

Do Dante de Laytano

Da Kenwood, a roupa da gata / do Meu Clube de Lions / do Cyro Martini

Porto Alegre

Sim

‘Sinto uma dor infinita / das Ruas de Porto Alegre / onde jamais passarei’

Permita Quintana, oh. Mário Quintana / que eu utilize os seus versos para

dizer que em cada rua das ruas que passei / encontrei amigos, muitos amigos.

Porto Alegre

‘Há tanta esquina esquisita

Há tanta moça bonita

Nas ruas que não andei / (e há uma rua encantada

Que nem em sonhos sonhei...)’

Nessa rua de sonhos sonhados, vivendo uma realidade / construí uma casa que fiz de meu lar.

Nessa Porto Alegre, tri legal

Essa cidade que passou há 20 anos a ser minha

Passo hoje humildemente a ser dela.

‘Quando eu for, um dia desses,

Poeira ou folha levada

No vento da madrugada

Serei um pouco do nada’

Serei um cidadão a mais

Que se foi, mas que levou / consigo o amor por esta cidade.”

Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra ao Sr. Mário Seixas Aurvalle.

 

O SR. MÁRIO SEIXAS AURVALLE: Exmo Sr. Presidente da Câmara Municipal, Exmos Srs. Vereadores que integram esta Câmara, em especial ao meu prezado amigo Ver. Isaac Ainhorn, e pela sua amizade atribuiu-me qualidades que não possuo, mas que de qualquer maneira sou grato a Sua Excelência. (Lê.)

“Durante o curso de minha, fui agraciado, ainda que não merecidamente, em algumas oportunidades. Galardoado por duas vezes pelo Governo da República Francesa, pela Ordem dos Advogados do Brasil, Secção do Rio Grande do Sul, pelo Tribunal Superior do Trabalho, tomei sempre tais homenagens como altamente honrosas e de sempre carinhoso recordar. Confesso-vos, porém, neste instante, que a láurea que me conferistes, de Cidadão Emérito de minha Cidade, todas essas homenagens suplanta e me comove.

Tenho vivido, invariavelmente, preso a esta terra, a este nosso sempre renovado e amável Porto dos Casais. Dela não quis jamais afastar-me, ainda que lisonjeado por convites oficiais, por demais envaidecedores, mas que, se aceitos, levariam a que abandonasse, por força do exercício de tão condignas incumbências, o silencioso andar por nossas ruas, a contemplação votiva de nossos velhos casarões, e, sobretudo, o convívio de amizades que comigo se entrelaçaram, motivando-me os passos e enlevando-me o coração.

Toda a minha vida foi dedicada ao desempenho da profissão de advogado, ao ofício de Professor de Direito e, nos últimos anos, também à função de Cônsul do México. Nunca fiz nada mais. Nunca fui ou quis ser mais do que isto. Foi este, por assim dizer, o contorno cotidiano de meus dias, sem lampejos de efêmera vaidade ou falsos ornamentos de insopitável mais querer, Em tais condições, pois, é que fui tecendo, desde longínqua e esperançosa juventude até aos tristes preâmbulos de minha velhice, toda a contextura de meu ser.

Importa ressaltar, nesta altura, que não faria senso prosseguir, sem antes abrir um parêntese para fazer uma referência deveras importante.

Não posso nem quero deixar de registrar uma especial palavra de grande carinho para com a minha mulher, que tanto me auxiliou durante minha vida, tratando-me com gentileza e inclusive colaborando nos meus trabalhos profissionais.

Prosseguindo, feito esse parêntese, uma coisa devo confessar. Algo, jungindo-me à frágil condição humana, levou-me a outro sentido de ambição. Acalentei, vezes sem contar, revê-lo agora, o sonho de que, algum dia, poderia ser reconhecido por minha cidade como um inconteste vigilante da Lei, da Justiça e do Direito. Nunca imaginei, entretanto, a forma como isto poderia realizar-se, nem quando, nem onde. Sentia apenas que ela estava em mim, que se repetia e me confortava, constituindo-se, enfim, como diferente e ansiosa ambição, que eu pressentia ser quase inatingível e tão distante como um sonho impossível.

É de fazer cabedal que não nos nega a vida, porém, suas compensações, meus nobres Srs. Vereadores.

Há muitos anos, anos que não os guardo mais com exatidão cronológica, lembro que entre a leitura de grossos alfarrábios de Direito e de outros tantos livros de poéticos devaneios, tomei conhecimento de bela e antiga lenda, que se resumia na doçura de um conto onde se mostrava toda constância na busca pela realização de um sonho.

Sinale-se que em antigo mosteiro de Portugal, num tempo que já se ia perdendo no rolar dos séculos, vivia um velho monge, a uma só vez, laborioso e sonhador, voltado por vontade própria à condição de amoroso floricultor dos jardins da Ordem. E foi assim, como jardineiro, que passou a buscar, em diuturno trabalho, a possibilidade de ver desabrochar a encantadora rosa azul das legendas do Oriente, de que tivera notícia ao ler quase esquecidos poetas e cronistas medievais. Para tanto, aquele monge, mesclava sementes, reverdecia brotos, renovava enxertos, num incessante trabalho de perpétua busca de uma rosa de cor inexistente.

Só e apenas tal propósito passou a presidir-lhe a motivação da vida, dividindo, assim, seu tempo entre as orações do ofício e a incansável renovação do mesmo ingente esforço. Passavam-se os dias e os anos sem que ele jamais alcançasse as bênçãos confortadoras da efetivação de seu intento.

Já velho e exaurido, porém, um dia, almas bondosas deram-lhe a ilusão da verdade. Mãos amigas simularam-lhe com precisão uma viçosa flor de seda azul, que levaram até ele, já recolhido nesta altura ao silêncio de sua cela. Viu, assim, o velho monge, transformar-se em realidade a imagem de seu sonho. Viu desabrochada, enfim, diante de seus olhos, já embaciados pelo tempo, na ponta de uma verde haste, a tão desejada rosa azul. Era toda a compensação de um profundo anseio, consubstanciado no conforto de uma ilusória flor.

Em meu caso, fostes vós, representantes lídimos desta nossa e minha cidade, que quisestes prestar-me a graça desta derradeira homenagem. Destes-me, com imensa bondade, a concretização do que sonhei. Sinto-me por isto tão comovidamente grato a vós, amigos Vereadores, por me terdes prodigalizado esta tão alta, benevolente e enobrecedora distinção.

Muito obrigado, pois, por vossa generosa dádiva.

Muito obrigado pela vossa rosa azul.”

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra ao Sr. Ermógenes de Paula M. Cardoso.

 

O SR. ERMÓGENES DE PAULA M. CARDOSO: Sr. Presidente da Câmara de Vereadores; Senhores Vereadores, senhores homenageados, meus amigos, todos presente. Usar da palavra, para mim, não é muito fácil, não sou um orador, mas gostaria, neste momento, de retribuir esta honra de hoje, repartir este mérito que foi além do merecimento. O trabalho comunitário que foi feito por minha pessoa foi pouco por este merecimento de hoje.

Quero dividir este mérito com minha esposa Dinah e com meus companheiros que sempre me ajudaram, meus familiares que sempre incentivaram o meu trabalho até hoje, aos Vereadores que me deram essa honra deste título, muito especialmente ao Ver. Luiz Machado. Muito obrigado. É o que eu tinha a dizer. Obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Nós concedemos a palavra ao Sr. Ariovaldo Alves Paz.

 

O SR. ARIOVALDO ALVES PAZ: Exmo Sr. Mário Seixas Aurvalle, Exmo Sr. Ladércio Furlan, Exmo Sr. Telmo Kruse, Exmo Sr. Ermógenes Cardoso, Exmo Sr. Presidente da Casa, Ver. Airto Ferronato, o meu profundo respeito. Ilmo Sr. Alfredo Raimundo, muito digno Presidente das Associações das Entidades Carnavalescas de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul, e meu particular amigo, Ilmo Sr. Juarez Rosa e Silva, Diretor dos Recursos de Consultoria, a toda a família carnavalesca de Porto Alegre, a minha querida azul e branca dos Bambas da Orgia, meus familiares, meus amigos, meu prezado Ver. Nelson Castan, Senhoras e Senhores. (Lê.)

“A vida tem momentos que marcam para sempre. A emoção às vezes nos sufoca, mas suplantamos tudo, e nesse momento significante de minha vida, permitam-me que retroceda ao passado, e relembre aquele humilde gráfico, que mesmo lutando pelo seu dia-a-dia, encontrou forças para encaminhar seus filhos, e, às vezes, dividindo seus espaços de vida, dimensionou razões no seu íntimo, para oferecer de si dons que a natureza lhe doou, através da arte de cantar, e da liderança nata, que há mais de quarenta anos desfruta no convívio dos artífices da maior demonstração de cultura popular, que é o nosso mundo carnavalesco.

Neste dia em que recebo esta tão marcante homenagem, quero estendê-la a todos que às vezes no anonimato tanto labutam pela oportunidade da manifestação cultural.

Quando encerro minha passagem pelos Bambas da Orgia, agradeço de todo o coração as alegrias que me foram proporcionadas, porque foram muito maiores e absorveram algumas tristezas.

A todos os amigos que me acompanharam, saibam que tudo que fiz e continuo fazendo, foi na intenção de preservá-los na continuidade de um relacionamento que significa a maior conquista de toda a minha existência.

Aos Bambas da Orgia entrego um projeto de futuro que pela sua própria natureza, será sua independência total, e a todos a certeza que o modesto Ariovaldo Alves Paz continua na trincheira das grandes causas que envolve-o à cultura popular através de sua maior manifestação que é o carnaval.

Reverendo José Figueres, que está aqui presente e quero manifestar, eu dediquei 39 longos anos na sua gráfica, o meu reconhecimento, porque o que sou hoje na vida devo ao senhor.

Muito obrigado a todos e que Deus proporcione a todos momentos de felicidades como esse que me é proporcionado. Muito obrigado.”

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Ilustres componentes da Mesa, nossos homenageados, suas esposas, Senhores Vereadores, Senhoras e Senhoras. A presença de tanta gente neste Plenário, na tarde de hoje, por si só já demonstra a grandeza deste ato e representatividade das pessoas ora distinguidas, e nós, em nome da Mesa Diretora da Câmara Municipal de Porto Alegre, em nome dos seus 33 Vereadores, cumprimentamos os nossos homenageados pela distinção, e registramos e agradecemos a presença de todos e encerramos os trabalhos.

 

(Levanta-se a Sessão às 18h59min.)

 

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